"No vão de uma escada ou no chão de uma varanda, na berma de uma estrada que nos leve para a outra banda. Passamos para outra margem, completamos uma viagem sem medo que será o nosso segredo e a ninguém iremos contar os passos que iremos dar tão longe das vistas alheias a este caminho que percorremos a dois.
Mergulhamos neste momento, procurando o recolhimento que se justifica nas ocasiões que pretendemos especiais, banhados por salpicos de um mar que criamos com gotas dos suores vertidos pelos corpos despidos, a alma nua, sob o olhar atento da lua que marca o ritmo sensual para a dança das marés.
Beijada da cabeça aos pés, agitas-te numa doce ondulação e eu assisto à rebentação das ondas, encantado, enquanto escuto num prazer silenciado a magia do teu som e sei que não existe búzio algum capaz de o reproduzir.
E é quando deixo de te ouvir que mergulho na água cristalina que humedece a areia tão fina desta praia deserta que é ponto de partida para a descoberta dos novos caminhos que desconhecemos, dos perigos que desafiamos encorajados pelo fervor da paixão, pelo ardor de uma tesão soprada pelo vento de cada palavra sussurrada no convés de um veleiro que deixámos ancorado num paraíso qualquer.
Numa ilha isolada ou no teu corpo de mulher, à superfície da água salgada ou no interior de uma gruta onde a madrugada acontece escondida do luar que brilha agora sobre o mar, lá fora, onde o mundo inteiro nos perdeu de vista quando acelerámos sobre a pista e não tardámos a descolar, deixando tudo para trás.
Voaremos de mãos dadas, sem planos ou rotas programadas, rumo a um ponto no horizonte onde existe uma terra distante, encantada. A terra onde o amor se faz."
Caixa dos fios
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