Caixa dos fios

31.8.08

Sornas




para contrariar a tendência dos últimos tempos, hoje acordei às 11h30, dormi uma sesta de 3 hora e vou-me deitar antes das 11 da noite.

alergia




para o caso de eu ter uma amnésia instantânea o meu corpo alerta-me que amanhã volto ao trabalho com uma rinite alérgica.

faz hoje 11 anos


As Mulheres




29.8.08

As coisas que me acontecem


e de repente entra-me uma andorinha pela casa...

Parabéns, meu amor grande


És o meu desportista de eleição. Não há desporto que não te cative. Vais ser futebolista e surfista. Nos intervalos vais ser médico para ajudares as pessoas. Ontem perguntavas-me se quando fosses adulto eu podia ter o rádio do carro numa estação que desse relatos de futebol para ouvir os teus jogos. Vibras com o Sporting e com o Cristiano Ronaldo. Há uns dias dizias-me que quando recomeçasses a natação ias treinar muito para ir aos jogos olímpicos. Afirmaste com toda a convicção que ias subir ao pódio e que te entregavam a medalha de ouro e, com toda a lata, perguntaste se eu gostava de te ver no pódio quando tocasse o hino. Até chorava, respondi-te.
Todos os dias quando me acabo de arranjar sei que tenho um piropo reservado. É-te natural dizer às pessoas o que elas gostam de ouvir. Preocupas-te demais com o que as pessoas sentem. Há uns tempos atrás querias telefonar a R. (a nossa empregada) para lhe agradecer ela arrumar tão bem os teus brinquedos. Todas as semanas na véspera da R. cá vir a casa, arrumas a tua varanda e dizes que ela é nossa empregada, não nossa criada.
Quando te cansas de algum brinquedo vens logo ter comigo e pedes-me que dê aos meninos pobrezinhos. Os partidos e estragados deitas fora: "- são pobrezinhos mas não precisam de brinquedos estragados, precisam é de brinquedos com que consigam brincar". No natal passado ofereceste a tua bicicleta nova a um anjinho do exército de salvação a quem eu tinha de comprar o presente pedido. Não fui eu, foste tu que tiveste a iniciativa. Todos os dias me perguntavas se eu já tinha conseguido mais pessoas para comprar presentes para os anjinhos. Até na escola falaste do assunto.
Não esqueces uma cara que te trate bem. Ficas sensibilizado com as atitudes dos outros e com o que te rodeia.
És um irmão mais velho fantástico, o teu irmão tem muita sorte, se fosses outro já o tinhas virado ao contrário. Tens razão ele ostraciza-te!
Tens tantas, tantas qualidades, a maior delas todas foi teres mudado a minha vida para sempre a partir do dia em que passaste a existir dentro de mim.
E como tu tão bem dizes "- Mãe o importante é ser feliz!"
E eu sou, meu amor, eu sou!

Save Miguel

28.8.08


não posso!


Comecei pela aventura, tive medo do erro que estava a cometer, mas achei-nos tão certos, tão perfeitos por entre as nossas imperfeições. Aprendi a aceitar, mas não chegou e decidi mudar. Procurar a forma, abrir caminho para o que viesse, para o que queria ter. Começas-te por me dizer, um dia quem sabe e eu comecei a sonhar com esse dia, sonhei sozinha e sonhámos juntos. Senti que faltava pouco quando vi sinais de mudança do teu lado mentalizei-me que teria de te dar espaço e tempo, que estas coisas não são de um dia para o outro que acontecem. E não, não acontecem de um dia para o outro nem me acontecem a mim. Mas de um dia para o outro disseste-me: “- Não posso!”
A frase ainda faz eco. “ – Não posso!”
Esse grande amor de uma vida, a paixão arrebatadora, as promessas de amor eterno, o encaixe que julgava perfeito.
De repente. “ – Não posso!”?
De repente, já não penso, não consigo fazê-lo. De repente, sinto apenas o o chão. Cai de muito alto. Cai da nuvem. Cai do planeta onde ficam guardados os sonhos e estatelei-me cá em baixo onde não estava ninguém para me dar a mão. Levantei-me, sacudi o pó e a muito custo sem perder tempo, continuei a caminhar, mas já não na tua direcção. Tu não podes, mas eu tenho de poder. Tu não mudas e eu tenho de aceitar. Eu mudo e tu não aceitas. Não sei se algum dia te arrependerás de não ter podido, eu provavelmente arrepender-me-ei de ter cedido.

26.8.08

de volta, a queimar os últimos cartuchos

são os meus últimos dias de férias, mas são também os dias que antecedem 15 dias de ausência deles. Nunca estive separada dos meus filhos mais do que um fim de semana e mesmo esses contam-se com menos de uma mão. Vai ser duro.

a sabedoria dos 6 anos


"- Mãe, o importante é ser feliz!"

25.8.08

até os lanches são melhores

Pergunto ao T o que quer lanchar, abre a porta do frigorífico, olha lá para dentro e a suspirar diz:

- As saudades que eu tenho do Alentejo...

(Também eu! Também eu...)

Foto: Shark

24.8.08

voltámos

mas com muita pena. Para o ano lá voltaremos, mas em vez de uma semana, serão duas.



23.8.08

asas

"I told you
That we could fly'
Cause we all have wings
But some of us
don't know why..."

21.8.08

Nascimentos

esta semana soube da notícia do nascimento de uma criança. A mãe não me diz nada (de bom). Independentemente desse factor, este ano reservo-me no direito de não ficar feliz com nascimentos de bebés à minha volta.

SEM PONTOS DE INTERROGAÇÃO

"No vão de uma escada ou no chão de uma varanda, na berma de uma estrada que nos leve para a outra banda. Passamos para outra margem, completamos uma viagem sem medo que será o nosso segredo e a ninguém iremos contar os passos que iremos dar tão longe das vistas alheias a este caminho que percorremos a dois.

Mergulhamos neste momento, procurando o recolhimento que se justifica nas ocasiões que pretendemos especiais, banhados por salpicos de um mar que criamos com gotas dos suores vertidos pelos corpos despidos, a alma nua, sob o olhar atento da lua que marca o ritmo sensual para a dança das marés.

Beijada da cabeça aos pés, agitas-te numa doce ondulação e eu assisto à rebentação das ondas, encantado, enquanto escuto num prazer silenciado a magia do teu som e sei que não existe búzio algum capaz de o reproduzir.
E é quando deixo de te ouvir que mergulho na água cristalina que humedece a areia tão fina desta praia deserta que é ponto de partida para a descoberta dos novos caminhos que desconhecemos, dos perigos que desafiamos encorajados pelo fervor da paixão, pelo ardor de uma tesão soprada pelo vento de cada palavra sussurrada no convés de um veleiro que deixámos ancorado num paraíso qualquer.

Numa ilha isolada ou no teu corpo de mulher, à superfície da água salgada ou no interior de uma gruta onde a madrugada acontece escondida do luar que brilha agora sobre o mar, lá fora, onde o mundo inteiro nos perdeu de vista quando acelerámos sobre a pista e não tardámos a descolar, deixando tudo para trás.

Voaremos de mãos dadas, sem planos ou rotas programadas, rumo a um ponto no horizonte onde existe uma terra distante, encantada. A terra onde o amor se faz."

Marcas que ficam


Estas férias vão ficar marcadas na minha memória durante muito tempo, senão para sempre.
Foi o regresso às férias com a minha mãe, são as primeiras com as minhas irmãs, são as primeiras dos miúdos sem os pais juntos e são tudo isto partilhadas com uma grande amiga.
Muita coisa aconteceu nestes últimos meses. Estão a ser umas férias de balanço. De olhar para o passado recente e também para o futuro. Fazer balanços e traçar novas metas.
Os nossos dias têm sido de calma e descanso como é bom que as férias sejam e esta terra é excelente para isso. Inevitavelmente há sempre algo que faz falta e não está presente. Tem sido também uma aprendizagem viver um dia de cada vez, mas há alturas na vida que é mesmo o melhor a fazer.

18.8.08

eles também vieram

o Infante mais novo não os larga, o mais velho queixa-se que é "ostracisado" pelo
outro. Só consegue pôr as mãos nos carros quando o irmão está a dormir, o que não dá jeito porque entre "bombas" para a piscina e carros, as "bombas" são mais convidativas.
São as nossas primeiras férias de mãe e filhos. Não viemos sozinhos, trouxemos a avó, duas tias e uma tia-emprestada juntou-se a nós.
Estamos instalados numa casa que foi um verdadeiro achado. Quer em termos económicos como de comodidades.
Os nossos dias têm sido anti-stress, sem horários, almoçamos às 4 da tarde, tão depressa jantamos às 9 como às 10 e meia da noite. Férias é isto mesmo. O mais novo continua a ter hora de alvorada, por volta das 7 da matina, mas eu tenho mãe e ela tem sido uma excelente avó-sitter enquanto ponho os sonos em dia. Ontem deitei-me a dormir uma sesta às 4 e meia da tarde e fui acordada por um telefonema às 8 e vinte da noite. Trouxe relógio, mas confesso que raramente olho para ele. Preciso de mais dias de férias destes, não quero pensar muito no assunto, mas sei que quando estas férias chegarem ao fim vou ter pena, muita pena de voltar.

o tempo aqui está assim


17.8.08

Nos meus sonhos


sonho com uma pequena casa cheia de gente numa aldeia alentejana. Amigos que se juntam a nós num fim-de-semana, ou mesmo numas férias. Chegam já à noite, pouco depois de nós, que só tivemos tempo para descarregar o carro e que estacionei de forma a que caiba mais um ou dois. Os miúdos, cansados da viagem pedem cama. O quarto deles tem dois beliches, onde dormem os filhos dos amigos, que hão-de dormir no outro quarto, o quarto das visitas.
De manhã acordamos todos com a excitação dos miúdos, as correrias para a piscina, o " mãe enche-me as braçadeiras!", mães e pais a chamar pelas crianças para que venham tomar o pequeno almoço antes de saltarem para a piscina. Depois sentamo-nos nós, à sombra, porque mesmo de manhã está quente e saboreamos a nossa farta mesa de pequeno-almoço, por entre gritos e risos das crianças. Entre vigílias às crianças e mergulhos na piscina, deixamos que o stress dos dias nos abandone e pomos a conversa em dia. Almoçamos na mesma mesa, o pão alentejano, a manteiga, o leite, o café e cª dão lugar a saladas de verão. Depois de almoço, uns aproveitam e fazem sestas outros preguiçam à sombra junto à piscina eu, escolho recolher-me numa das redes propositadamente colocadas entre as duas árvores que lhes fazem sombra. Chegado o fim de tarde fazemos grelhados no carvão por entre mergulhos e amena cavaqueira bem regada de sangria para refrescar. O jantar está na mesa, começa a escurecer, acendemos as luzes da rua e as velas e, vamos ficando à volta da mesa em animada tertúlia que continuará muito depois dos mais novos se terem rendido ao sono.
E são assim, os fins-de-semana e férias nos meus sonhos.

15.8.08

Lembrete


Hoje é mais um dia 15!

e pronto, já está


sesta feita, malas prontas à porta, telefonemas e sms pelo meio (da sesta e das malas...), casa toda arrumada e recados para a empregada. Só falta mesmo zarpar, mas como ainda tenho de esperar por amanhã, vou fazer como umas gaijas que eu conheço e vou assaltar o frigorífico, que tanta agitação dá uma fome do caraças.

e ainda não é desta


que vou encher malas, vou mas é dormir uma bela sesta que bem preciso! As malas podem esperar

Alguém se lembra?



14.8.08

estou esgotada


Vou de férias! Levo filhos, mãe, irmãs e uma amiga que vai ter connosco. Muito mulherio o que dá sempre muito jeito porque enquanto se entretêm, elas e os miúdos, uns com os outros eu conto ter uns bocadinhos para descansar. Estou de facto muito cansada. Quer a cabeça quer o corpo reclamam por descanso. Apetece-me ir de férias, mas quando penso em fazer as malas... fico logo mais cansada. Não costumo andar com muita tralha atrás, levo o básico e essencial e apesar de ter duas crianças pequenas consigo ter menos bagagem do que muita gente sem crianças. Mas o esforço que preciso de fazer para me arrastar da cadeira onde estou sentada e ir até ao quarto deles buscar meia dúzia de trapos e enfiá-los numa mala é demasiado. Não consigo. Não quero. Estava-me a lembrar duma série que dava quando eu era miúda " a minha mulher é uma feiticeira" ou "casei com uma feiticeira", a mim dáva-me mais jeito "a minha mãe é uma feiticeira" e eu agora espetava o dedo tocava com ele no nariz e as malas apareciam ali à porta prontinhas, melhor, apareciam na mala do carro. Não tenho poderes de feiticeira, o que até tenho pena, mas garanto que vai aparecer tudo na mala do carro, mal eu consiga arrastar-me daqui, até lá continua tudo no armário e nas gavetas.

Ele voltou


Depois de uma ausência prolongada por uma Cena de Coisas, descobri hoje, aqui, que ele está de volta.
Gosto de quiosques, de ler as 1ªs páginas dos jornais, o colorido das capas das revistas.
Lembro-me de ser miúda e andar sempre à procura de mais um "Patinhas" que ainda não tivesse lido, de ir comprar o Correio da Manhã ao meu avô, de comprar imensas pastilhas para distribuir pelos meus colegas (era proibido comer pastilhas elásticas no colégio, com direito a castigos e tudo), de ir comprar SG Fitro à minha mãe e descolar o maço por baixo para lhe tirar um cigarro do meio do maço.
Sempre vi os quiosques com um encanto especial, é bom saber que posso ir espreitar este .

mais 7 horas e...

13.8.08

até que enfim, a explicação que faltava


"Pílula pode levar as mulheres a escolherem o «parceiro errado»

Segundo eles, a teoria pode ainda ajudar a explicar rupturas em relacionamentos pois a percepção do odor tem um papel importante em manter a atracção entre parceiros. "

livre


Gosto da liberdade que a minha vida me permite. Gosto de só ter de me preocupar com as coisinhas do dia-a-dia que tenham a ver comigo e com os meus filhos. Gosto de dormir sozinha. Gosto de não tropeçar em ninguém. Gosto de me poder deitar às horas que me apetecer, dormir no sofá se quiser ou poder enfiar uma das melgas na minha cama ou enfiar-me na deles. De meter uma lasanha congelada no forno e abrir uma garrafa de vinho. Do meu momento solitário à varanda a fumar um cigarro. Acender velas só para mim, porque também sou gente. De não ter de prestar contas a ninguém de onde fui, com quem estive. Se cheguei cedo, se cheguei tarde. Dar-me ao luxo de jantar uma caixa de gelado ou ir fazer uma massagem num Domingo às 8 da noite. Aceitar um convite de última hora para jantar numa esplanada na praia. Convidar apenas os meus amigos para virem cá a casa sem pensar em mais ninguém. Pegar no carro, meter-me à estrada e rumar a sul para me refugiar na casa de uma recém-velha-amiga. Rumar a norte e pedir colo às origens. Poder pensar que nas férias do ano que vem, posso meter-me num avião e conhecer outras paragens sem negociações. Ouvir a música alto se me apetecer. Chorar, até, se quiser, sem explicar mas nem porquês. Mudar a decoração sem ter em conta os gostos de outra pessoa, alterar o sítio às coisas sem a preocupação de explicar onde está tudo. Menos roupa na corda, mais espaço no armário. Mimos de filhos só para a mãe. Mimos de mãe só para os filhos. É não me aborrecer por ter de esperar algo de alguém que não fez, alguém que não disse.

Porque às vezes só há mesmo um


e nem vale a pena contrariar... é andar e apreciar a paisagem.

12.8.08

Enquanto puder

Cabeças isentas de medos e de nojos, vidas felizes de gente saudável e sem nada a perder."

e se

ontem o final de tarde me parecia de fim de Verão, hoje o dia não está melhor.

11.8.08

Sensações


Poucas são as sensações que se conseguem explicar. Sentem-se. Por vezes motivadas por coisas concretas, por feellings, por cheiros, por sons, por sítios, etc.
Já me aconteceu por diversas vezes sentir um cheiro qualquer e tenho aquela sensação de ser "transportada" para um outro local. Aconteceu-me, não há muito tempo, ao passar por um corredor da empresa onde trabalho, senti o cheiro a chão lavado e automaticamente vi-me no colégio onde andei, o cheiro levou-me até lá. Quantas vezes me acontece ouvir uma música que me marcou numa determinada época e subitamente parece que a recordação é sentida "fisicamente"?
Tenho muitas "viagens" destas provocadas por este tipo de sensações.
Ainda há minutos e, por isso escrevo este post, tive uma sensação deste tipo.
Cheguei a casa cedo, arrumei tudo o que havia para arrumar, liguei o pc na sala, liguei a aparelhagem, e fui até à varanda fumar um cigarro, até aqui nada de novo. Sentei-me a olhar o horizonte por entre os prédios e, subitamente tive a sensação de fim de Verão. Eu sei em que dia estamos, mas a temperatura, o céu nublado fez-me ter esta sensação que se tem quando o Verão está a chegar ao fim.
Não se explica, sente-se por breves instantes, mas sente-se.

Pedido

Peço ao visitante 1000 que deixe um comento na caixinha.

Obrigada

o romance realista

"(...) O romance não acaba quando a realidade entra, porque ela sempre lá esteve. O romance acaba quando as forças se desequilibram, a paixão passa para o mesmo plano que a conta ordenado e o objecto do nosso amor é só mais uma sombra, igual às outras todas, no fundo da nossa caverna."

para lêr na integra no cabra

prisioneira

Que queres que te diga? Que mais te posso dizer, a não ser que acho tudo isto um absurdo? Não direi concerteza nada que queiras ouvir.
Não entendo. Não te entendo. Ter tudo à mão e não agarrar é o mesmo que pedir que desapareça.
Porque não me mandas desaparecer de uma vez por todas? Porque me manténs prisioneira nesta masmorra onde me deixaste? Queres-me deixar ir? Deixa-me ir de uma vez. Não deixes a porta aberta, fecha todas as janelas, sela qualquer passagem. Manda-me embora. Diz-me que não, diz-me que não me queres. Será assim tão díficil? Não será para todos mais fácil assumir de uma vez por todas? Diz-me que não queres. Manda-me à merda. Não faças "género". Deixa o politicamente correcto para trás das costas, não te peço que sejas educado. Peço-te apenas que sejas firme.
Só tens de dizer: - Acabou! - mas di-lo com firmeza para que não me restem dúvidas. Atira-me da janela desta torre onde estou encarcerada se fôr preciso, mas liberta-me, definitivamente.
De que tens medo? Do arrependimento de me teres deixado ir cedo demais? Não terei eu já esperado tempo suficiente? Nunca te pedi que me salvasses, afinal o meu carrasco és tu.
Não me queres deixar partir sozinha? Queres ir comigo? Será por essa razão que me manténs encurralada numa ilusão "se correr o bicho pega, se ficar o bicho come"?
Queres vir? Vem... eu espero que faças a mala... eu dou-te a mão, iremos juntos.
Queres ficar? Fica... mas abre-me a porta, põe-me do lado de fora e se eu hesitar e olhar para trás, fecha-a na minha cara e tranca-a.



10.8.08

a falta de escrever


Houve uma altura em que escrevi muito, era uma necessidade libertar sentimentos que me trespassavam. Precisava de descrever o que sentia, para eu própria perceber, mas também para tentar que quem de direito entendesse o que eu sentia.
Todos os dias, às vezes mais do que uma vez por dia, escrevia, a maior parte das coisas que escrevi, reli, várias, muitas vezes. Confesso que muitas dessas vezes fiquei um pouco atónita com as palavras, as frases, carregadas de sentimento que foram resultado do meu próprio teclar. Por vezes à distância de um ou dois dias, perguntava-me como tinha sido capaz de tamanha emotividade num emaranhado de palavras.
Devido a circustâncias da vida e dos próprios sentimentos a minha escrita tornou-se mais escassa. Também, confesso, que depois de tanto escrever, cheguei a um ponto em que acho tudo demasiado repetitivo, não me refiro ao que escrevi, mas ao que escreveria se continuasse, seria sempre uma alteração ao escrito anteriormente pela forma e não pelo conteúdo.
A minha "musa inspiradora" tem estado ausente, digamos assim, é um facto. Eu preciso de sentir para escrever o que eu própria gosto de ler, quer seja à distância de um minuto, de dias ou mesmo meses. Estou a passar por uma fase de torpor dos sentidos. Sei o que sinto, mas é-me muito complicado de descrever, está tudo demasiado intricado. Tenho tido a cabeça a mil à hora e escrever a esta velocidade torna-se complicado.
Porém, e apesar de tudo o que me faz não escrever, percebi hoje que é uma das coisas de que sinto falta. Deitar cá para fora. Mais ou menos articulado. Mais ou menos emotivo. Perceptível ou não. Faz-me bem escrever. Faz-me bem partilhar sentimentos. O que escrevo quase nunca é muito pensado à anterióri, os meus pensamentos fluem demasiado depressa para que me possa permitir a estruturar o que quero escrever. Normalmente, perante uma situação, ou um sentimento, penso exactamente no que estou a sentir e não elaboro mais nada, evito pensar muito sobre o assunto, a não ser quando estou num local que me permita escrever à medida que encaixo tudo na minha mente e vou compartimentando todos os pensamentos para que fiquem bem arrumadinhos. Recuso-me a fazer rascunhos, não adianta. De todas as vezes que o fiz o resultado final foi completamente diferente. Com tanto corta e coze perco completamente o meu fio condutor. Por isso quando me apetece muito escrever, não aprofundo até poder escrever em sede própria.
Hoje percebi que sinto esta falta, a falta da escrita, a falta da partilha. Os meus sentimentos são sempre dirigidos a pessoas e/ou situações. Podem nem sempre ser agradáveis de ler a quem são dirigidos, mas, lá está, é a única via que tenho para conseguir "encaixar" o que eu própria sinto e penso e, sinto falta desse "encaixe".
Escrever um texto dirigido a alguém, para mim, é muito mais fácil do que horas de conversa, talvez porque sendo um texto acaba por ser um monólogo e consigo transmitir, pelo menos aos meus olhos, tudo o que me vai na alma, sem pudores, sem ter de me moderar e não o tenho feito, não há velocidade do que tenho sentido e pensado.
Gosto de escrever para os outros, talvez porque me dá um prazer enorme ler o que os outros me escrevem.
E faz-me tanta falta preencher este vazio.

8.8.08

Sorte por centímetros

e não é que caiu uma árvore na minha rua que não acertou no meu carro por centímetros. Por um palmo saiu ileso.

(... ) Sofrer

Sofremos por amor.
Sofremos por amar alguém.
Sofremos porque amamos fora do tempo.
Sofremos porque não podemos (deveríamos) amar o objecto do nosso amor.
Sofremos, até, por alguém que nos ama e não conseguimos corresponder.
Era tudo tão mais simples se pudéssemos amar quem queremos quando queremos.
As dores no peito, os apertos no estômago que parecem dar nós. Dores e apertos que nos fazem dobrar sobre nós próprios. Enroscar-nos como ouriços. Lavar a cara com as próprias lágrimas. Calar ou simplesmente gritar os soluços do choro, que nos entope as narinas e nos faz ouvir em eco.
Aprisionamos palavras com medo de ferir, de afugentar. Ficam entaladas entre o coração e a garganta. Sofucamos.
Relembramos sonhos, os nossos, os dos outros e os de ambos. Marterizamo-nos com porquês e mas. Às vezes gritamos, deitamos cá para fora tudo o que nos vai na alma. Mas muito do que está no coração fica lá. Não há palavras suficientes, apenas os poetas conseguem chegar mais perto, mesmo assim ficam aquém.
Só quem sofre de amor ou por amor tem verdadeira noção. A dor é quase insuportável, é desumana. Como é que um sentimento tão nobre e verdadeiro pode causar tantos estragos.
São feridas que se abrem, umas talvez tenham cura, mas mesmo essas mantêm a cicatriz visível, por vezes até ao resto da vida. Mas essas são as feridas do coração, e as marcas da alma, desaparecerão um dia? Ou, se é verdade que a alma permanece para além da existência do corpo, irá permanecer com a marca desse sofrimento?



Meu coração
Sem direção
Voando só por voar
Sem saber onde chegar
Sonhando em te encontrar
E as estrelas
Que hoje eu descobri
No seu olhar
As estrelas vão me guiar

Se eu não te amasse tanto assim
Talvez perdesse os sonhos
Dentro de mim
E vivesse na escuridão
Se eu não te amasse tanto assim
Talvez não visse flores
Por onde eu vim
Dentro do meu coração

Hoje eu sei
Eu te amei
No vento de um temporal
Mas fui mais
Muito além
Do tempo do vendaval
Nos desejos
Num beijo
Que eu jamais provei igual
E as estrelas dão um sinal

Se eu não te amasse tanto assim
Talvez perdesse os sonhos
Dentro de mim
E vivesse na escuridão
Se eu não te amasse tanto assim
Talvez não visse flores
Por onde eu vim
Dentro do meu coração..

Até que a morte nos separe

"Era mais fácil jurarmos amor "até que a morte nos separe" quando a morte era uma ceifeira jovem e eficiente. Basta passearmo-nos pelos cemitérios de antanho, povoados de anjos de pedra e jazigos construídos com vagar, para percebermos como era romântico o amor eterno: as belas noivas subiam frequentemente ao céu no alvor da juventude por mor de um parto acidentado; quanto aos noivos, se não fosse uma batalha, seria uma qualquer peste contagiosa, mais ou menos pecaminosa. Ninguém subia ao altar com a ideia de passar cinquenta anos ao lado do ente querido, nem imaginar qual dos dois mostraria primeiro sinais da aterosclerose. Era bom amar para sempre nos tempos de Guerra e Paz de Tolstoi, quando as pessoas se finavam na glória dos seus cinquenta anos, mais coisa menos coisa. Até porque ainda não se inventara essa pérfida globalização, que em poucas horas nos leva de um continente ao outro, fazendo-nos viver num contínuo desfile de caras e corpos, se não novinhos em folha, pelo menos novos ao nosso olhar. Não havia, por assim dizer, a concorrência desenfreada de tipos humanos que hoje há. Imaginemos o Simão Botelho dos transmontanos idos do Amor de Perdição, já não digo em Nova Iorque ou no Rio de Janeiro, mas na Lisboa ou mesmo na Viseu de 2008 - e pensemos quanto tempo ele levaria a esquecer os reflexos da luz do sol no cabelo de Teresa à janela. Amar uma só pessoa durante quatro, dez ou vinte anos, hoje, equivale à fidelidade de uma vida inteira dessas lentas, de antigamente. Acresce que a fidelidade aos mortos é mais leve - feita de algodão de metafísica. Os mortos não deixam a roupa espalhada pelo chão nem cabelos na banheira, não ressonam nem se zangam connosco quando nos atrasamos, não nos pedem ajuda para preencher a folha dos impostos nem se esquecem do nosso aniversário. Sabem dizer-nos exactamente aquilo que queremos ouvir, mesmo que não tenham chegado a dizê-lo em vida. São perfeitos. Os mortos são os únicos seres com os quais é possível mantermos um casamento contra a vontade deles.

Assim, o que me espanta, não é a proposta de lei que visa acabar com o divórcio litigioso: o que me espanta, é que até hoje, as pessoas possam permanecer casadas durante anos (três actualmente) com um outro ser humano que já não quer estar casado com elas. Que alguém queira viver assim, não me surpreende: há gostos para tudo, e oiço dizer que há quem experimente um prazer requintado em marterizar outrém. o problema é que os divórcios muito litigiosos resultam normalmente de casamentos em que existem filhos - e o mais elementar bom senso recomendaria que se poupasse às crianças o espectáculo pornográfico de atribuição de culpas. Alegam os opositores desta proposta que aceitar a dissolução "só" por vontade de um dos conjuges é cometer uma injustiça contra o outro, o "santo", "o que não tem culpa".

Quando morre o desejo, quando o amor se esboroa - de quem é a culpa? Quem deixou que a chama se apagasse? Provavelmente um e outro, sem darem por isso - ou apenas o vento, o excesso de realidade, as deambulações de cada um dentro da sua própria vida. O "culpado" é, pressupõe-se, o "infiel". A Humanidade anda desde os alvores da História a dividir o mundo entre "fiéis" e "infiéis" (a um Deus, a um Senhor, a outro ser humano) e os resultados não têm sido propriamente brilhantes - não será tempo de mudarmos de modelo? Acresce que a infidelidade concreta, seja ela qual for, é sempre uma consequência, nunca uma causa - Se A que amava B agora ama C, é porque havia dentro dele (ou dela) um espaço de amor (ou desejo, ou cumplicidade) por preencher. Os afectos não se comandam - é aliás por isso que a inteligência tem melhor imprensa do que os sentimentos, não nos dá jeito nenhum percebermos que, tão doutos que somos, tão superiores a cães, lagartos e leões, não temos controlo algum sobre os dados fundamentais das nossas vidas: o nascimento, o amor, a morte. Quantas vezes desejámos amar quem não amamos, e não amar quem, contra todas as razões, amamos? Quantas vezes soçobramos ao amor que nos faz mal depois de anos de esforço sincero para querer o amor que nos faz bem?
Pode também acontecer separarmo-nos de alguém e virmos a descobrir mais tarde, que afinal, aquela era a pessoa com quem queríamos partilhar a vida. Ainda assim é mais fácil que isso aconteça depois de um divórcio rápido e tranquilo do que depois do tenebrosos desgaste de um divórcio litigioso. As pessoas enganam-se - a si mesmas, antes de mais. Sabermos que nos enganámos faz-nos sofrer - sim, o "culpado" também sofre. Em nome de quê havemos de arrastar esse sofrimento mutuo anos a fio - destruindo a estabilidade emocional das crianças ou das famílias e amigos em redor do casal?
O amor é um animal felino, mutante, não resiste a cativeiros forçados. Podemos ter a sorte de amar e ser amados "até que a morte nos separe" - mas a verdade é que só podemos prometer amarmo-nos até ao dia da morte do amor, esse ser misterioso, independente e livre."


Inês Pedrosa - In Única

7.8.08

Pininfarina

(...) um dos mais conhecidos designers de automóveis de todos os tempos, Andrea Pininfarina seguia tranquilamente na sua Vespa, em Trofarello, na região de Turim, quando foi atingido por um carro que fazia uma ultrapassagem ilegal.

(...) Andrea Pininfarina dirigia-se para o centro de desenvolvimento e pesquisa da empresa, em Cambiano, onde foi testado um dos carros mais recentes da autoria da Pininfarina, o Ford Focus. E foi mesmo um carro dessa marca, um Ford Fiesta, que causou o acidente e a morte do italiano. O motorista do carro, um homem de 78 anos, saiu ileso.
(...)

o bom (do) sexo

"Topo logo um artolas (ou um virgem, vai dar quase ao mesmo no caso concreto) quando me vêm com uma daquelas intervenções à garanhão: eu cá gosto é de comê-las por detrás, à canzana. Porreiro, pá.

dia não

La vida es corta Rompe las reglas
Perdona rápido
Besa lentamente
Ama verdaderamente
Ríe incontrolablemente
Y nunca te arrepientas de nada
que te haya hecho sonreír.

e depois veio um fio solto e fritou um anónimo

Lembram-se daquele anúncio de natal do coelhinho e do pai natal e foram todos ao circo?
Pois bem, esta noite um anónimo que deixou um comentário assim um bocadinho 'pró... sei lá, nem me vou dar ao trabalho de adjectivar, foi eliminado.

Sim neste blogue eliminam-se comentários, porque eu também não admito que um desconhecido qualquer me entre pela casa dentro e me parta um prato do melhor serviço.

Não tenho moderação de comentários nem tenciono passar a ter, mas se tiver de ser, vivo bem com isso e acredito que quem me vem ler e me deixa comentários simpáticos, inteligentes ou puras graçolas, não deixará de o fazer e terei todo o gosto em permitir a entrada desses comentários. Aos outros não.

O fiossoltos é o meu blogue. Aqui escrevo, transcrevo e posto o que bem entendo sem nunca ofender ninguém, porque aliás esse tipo de atitude não beneficia ninguém.

Posto isto e porque o blogue me dá muito gozo, não deixarei que um ou uma cobardolas qualquer escondido/a por detrás dessa cortina de anonimato me venha sujar o tapete.

Às visitas que vêm por bem, entrem, estejam à vontade e divirtam-se. A caixa dos comentos é vossa, sirvam-se!

6.8.08

e agora?

com a criança a dormir, quem me coça as costas?

à beira-mar

E se de repente fossem convidados para um jantar à beira mar? Não, não é impulse! É ter o prazer de uma excelente companhia numa boa esplanada numa noite de verão. É uma boa conversa de olhos na criança que brinca na areia enquanto o hamburguer com as batatas não chega. É ouvir e ver o mar e trazer alguma paz no regresso a casa.

irmãos

O meu filho mais velho aprendeu a dizer que é ostracizado pelo mais novo.

As mulheres têm fios desligados

"Há uns tempos a Joana
- Pai, acabei um namoro à homem
Perguntei como era acabar um namoro à homem e vai a miúda
- Disse-lhe o problema não está em ti, está em mim
o que me fez pensar como as mulheres são corajosas e os homens cobardes. Em primeiro lugar só terminam uma relação quando têm outra. Em segundo lugar são incapazes de
- Já não gosto de ti
- Não quero mais
chegam com os discursos vagos, circulares
- Preciso de tempo para pensar
- Não é que não te amo, amo-te, mas tenho de ficar sozinho umas semanas
ou declarações do género de
- Tu mereces melhor do que eu
- Estive a reflectir e acho que não te faço feliz
- Necessito de um mês de solidão para sentir a tua falta
e aos amigos
- Dá-me os parabéns que lá me consegui separar da chata
- Custou mas foi
- Amandei-lhe aquelas lérias do costume e a gaja engoliu
- Chora um dia ou dois e depois passa-lhe
e pergunto-me se os homens gostam verdadeiramente das mulheres. Em geral querem uma empregada que lhes resolva o quotidiano e com quem durmam, uma companhia porque têm pavor da solidão, alguém que os ampare nas diarreias, nos colarinhos das camisas, nas gripes, tome conta dos filhos e não os aborreça. Não se apaixonam: entusiasmam-se e nem chegam a conhecer com quem estão. Ignoram o que ela sonha, instalam-se no sofá do dia a dia, incapazes de introduzir o inesperado na rotina, só são ternos quando querem fazer amor e acabado o amor arranjam um pretexto para se levantar (chichi, sede, fome, a janela de que se esqueceram de baixar o estore)
ou fingem que dormem porque não há paciência para abraços e festinhas, pá, e a respiração dela faz-me comichão nas costas, a mania de ficarem agarrados à gente, no rónhónhó, a mania das ternuras, dos beijos, quem é que atura aquilo? Lembro-me de um sujeito que explicava
- O maior prazer que me dá ter relações com a minha mulher é pensar que durante uma semana estou safo
e depois pegam-nos na mão no cinema, encostam-se, colam-se, contam histórias sem interesse nenhum que nunca mais terminam, querem variar de restaurante, querem namoro, diminutivos, palermices e nós ali a aturá-las. O Dinis Machado contava-me de um conhecedor que lhe aclarava as ideias
- As mulheres têm fios desligados
e um outro elucidou-me que eram como os telefones: avariam-se sem que se entenda a razão, emudecem, não funcionam e o remédio é bater com o aparelho na mesa para que comecem a trabalhar outra vez. Meu Deus, que pena me dão as mulheres. Se informam
- Já não gosto de ti
se informam
- Não quero mais
aí estão eles a alterarem a agressividade com a súplica, ora violentos ora infantis, a fazerem esperas, a chorarem nos SMS a levantarem a mãozinha e, no instante seguinte, a ameaçarem matar-se, a perseguirem, a insistirem, a fazerem figuras triste, a escreverem cartas lamentosas e ameaçadoras, a entrarem pelo emprego dentro, a pegarem no braço, a sacudirem, a mandarem flores eles que nunca mandavam flores, a colocarem-se de plantão à porta dado que aquela puta há-de ter outro e vai pagá-las, dispostos a partes-gagas, cenas ridículas, gritos. A miséria da maior parte dos casais, elas a sonharem com o Zorro, Che Guevara ou eu, e eles a sonharem com o decote da vizinha de baixo, de maneira que ao irem para a cama são quatro: os dois que lá se deitam e os outros dois com quem sonham. Sinceramente as minhas filhas preocupam-me: receio que lhes caia na sorte um caramelo que passe à frente delas nas portas, nãos lhes abra o carro, desapareça logo a seguir por chichi-sede-fome-persiana-mal-descida-e-os-ladrões-percebes, não se levante quando entram, comece a comer primeiro e um belo dia
(para citar noventa por cento dos escritores portugueses)
- O problema não está em ti, está em mim
a mexerem na faca à mesa ou a atormentarem a argola do guardanapo, cobardes como sempre. Não tenho nada contra os homens: até gosto de alguns. Dos meus amigos. De Schubert. De Ovídio. De Horácio, de Virgílio. De Velásquez. De Rui Costa. De Einzenberger. Razoável a minha colecção. Não tenho nada contra os homens a não ser no que se refere às mulheres. E não me excluo: fui cobarde, idiota, desonesto.
Fui
(espero que não muitas vezes)
rasca. Volta e meia surge-me na cabeça uma frase de Conrad em que ele comenta que tudo o que a vida nos pode dar é um certo conhecimento dela que chega tarde demais. Resta-me esperar que não seja tarde para mim. A partir de certa altura deixa de se jogar às cartas connosco mesmos e de fazer batota com os outros. O problema não está em ti, está em mim, que extraordinária treta. Como os elogios que vêm logo depois: és inteligente, és sensível, és boa, és generosa, oxalá encontres etc., que mulher não ouviu bugigangas destas?
Uma amiga contou-me que o marido iniciou o discurso habitual
- Mereces melhor do que eu
levou como resposta
- Pois mereço. Rua.
Enfim, mais ou menos isto, e estou a ver a cara dele à banda. Nem uma lágrima para amostra. Rua. A mesma lágrima para amostra. Rua. A mesma amiga para uma amiga sua.
- O que faço às cartas de amor que me escreveu?
e a amiga sua
- Manda-lhas. Pode ser que lhe façam falta.
Fazem de certeza: é só copiar mudando o nome. Perguntei à minha amiga
- E depois de ele se ir embora?
- Depois chorei um bocado e passou-me.
Ontem jantámos juntos. Fumámos um cigarro no automóvel dela, fui para casa e comecei a escrever isto. Palavra de honra que na janela uma árvore a sorrir-me. Podem não acreditar mas uma árvore a sorrir-me."


António Lobo Antunes In Visão

5.8.08

adoro dormir contigo

Depois de muitas noites a dormir numa cama só para mim em que me abarbato às duas almofadas e me deixo ficar atravessada na cama até acordar, esta noite e, apesar de só lá ter estado pouco mais de uma hora, dividi-a.
Deitei-me a sentir o teu sono profundo, o cheiro do teu corpo, o calor que se espandia para o meu lado. Quando acordei ainda dormias, estavas a meio da cama provavelmente porque durante o sono me procuraste e tentaste encaixar-te em mim como tantas vezes o fizeste, assim, nos meus braços completamente encostado a mim com o teu braço pequenino pousado sobre o meu pescoço.
Perdeste estes momentos de mimo por causa da melga do teu irmão. Tu, irmão mais velho, sempre preocupado com ele deixaste de querer dormir comigo para que ele não ficasse sozinho no quarto e adormecesse sem dramas. Senti-te a falta. Dormimos juntos muitas noites, sentir-te ali ao meu lado na cama-nuvem, sentir a tua respiração, poder velar-te o sono, apesar do pouco que dormi foi um sono tranquilizador porque estavas ali ao meu lado.
Deixaste de ser o bebé lá de casa, o teu irmão destronou-te, falo contigo e trato-te como se fosses crescido, mas serás sempre o meu bebé.

ainda falta, mas


continuo, desesperadamente, a precisar de férias, de sair daqui.
Sinto-me sufocar.

4.8.08

as viagens da minha vida

duas horas e meia de viagem a remoer na discussão ao telefone imediatamente antes começar a ver Lisboa pelo retrovisor. Carro entre os 140 e os 160 Km/h, nas descidas 180, o cérebro a 1100, quase queimava a junta da cabeça ou do que restava dela. Ânimo, nenhum. Raiva muita. Duzentos e tal quilometros não chegam para arrumar tanta barbaridade. No horizonte a expectativa onde me tentava abstrair.
À chegada, sorrisos de recepção e portas escancaradas. - Sintam-se em casa!
Era a casa de uma prima pouco mais velha com quem brincávamos na infância. Conhecermo-nos como quem põe a conversa em dia. Redescobrir numa e noutra conversa que o mundo é pequeno e Portugal é um ovo. Pedi conselhos de profissional e partilhámos histórias.
Eu senti-me em casa!
Tive pena de ter desperdiçado algumas horas a ir a uma festa do tipo que invariavelmente me arrependo. A conversa no alpendre, embalada na rede das aranhas, com as figueiras ao fundo e as osgas como testemunhas tinha sido uma noite bem melhor. Valeu-nos o chá e o leite por entre cigarros e muitos dedos de conversa à chegada até irmos dormir ao mesmo tempo que o dia acordava.
Acordar com o sol a entrar de rompante pelo quarto, a casa silênciosa, fazer o telefonema para casa a saber como estão os miúdos. De mão dada com a Clarinha, vamos tirar fotografias ao lago e ver os patos e os cães bebés. Café para acordar e torradas acompanhadas de muito mais conversa. O aperto que começa a surgir com a hora de regressar. E custa-nos sair. A despedida tão natural como a chegada. Cultivar uma amizade é gratificante para quem gosta de pessoas. A vida coloca-nos muitas vezes pessoas pela frente que por vezes nem damos conta, tão atarefados que estamos na nossa vidinha. Se lhe dermos um pouco mais de atenção e oportunidade talvez consigamos ver um pouco mais longe. Talvez consigamos ver que não será concerteza fruto do acaso.
Tão pouco tempo e tanto para contar, assim, muitas vezes se escrevem grandes histórias. O prólogo é prometedor disso mesmo.
Dar uma cara aos olhos que sobressaem do fundo azul, sentir a cores a força de uma grande mulher que nos abre a porta e nos recebe de braços abertos como se nos conhecesse desde sempre. Em menos de 24 horas foi feita uma nova sementeira, resta-nos regá-la e adubá-la.

2.8.08

bússola

Quando o norte nos parece meio perdido, vale mais ir em busca de outros pontos cardeais.
E que bem me sinto no Sul.

1.8.08

baby

não é que agora, que não quero ter mais filhos e dei a minha loja por encerrada, compro um carro e me dizem que se tiver um filho nos próximos dois anos me oferecem 2.000€ ?

ou não

de há uns tempos para cá, sempre que entro no carro, qualquer que seja o posto, qualquer que seja a hora, não há vez nenhuma em que esta música não passe.
Ao princípio achei coincidência, a partir de determinada altura começou-se-me a franzir o sobrolho, agora rendo-me às evidências. A música é uma mensagem, não sei de que entidade, mas para o caso não interessa. Seja como fôr, eu já entendi a mensagem e já a pus em prática, dá para pararem de me enviar mensagens por esta via? É que já não se aguenta! Já percebi, ok? Não me azucrinem mais.

coincidências

Lobo Antunes escreveu um artigo numa revista;

"As mulheres têm fios desligados"

Ainda não o li, até porque não sei qual é a revista, mas o comentário que faço ao título é:

- Há alturas em que as mulheres têm de desligar os fios.

oficialmente, Cabra!


O dia de ontem começou muito mal, logo de seguida piorou. As desilusões sucederam-se qual catadupa. O dia foi passando e as desilusões continuavam sempre a pingar como torneira ferrugenta, pingo atrás de pingo. Problemas e chatices que me mantiveram macambuzia todo o santo dia com uma enorme vontade de expulsar os gritos que ecoavam cá dentro.
Depois, assim de surpresa e quanto menos se espera (como quase tudo de bom na vida) surge algo para desanuviar e fazer-me pensar noutras coisas. Foi uma coisa, assim do tipo, entrar e poder largar o casaco e a mala que nos está a pesar. Deixei de pensar na lama que me molhava os pés e tive outras coisas onde focar o meu pensamento. Não era nada que me resolvesse a vida ou os problemas do dia, mas foi como uma chuva repentina que surgiu durante um incêndio. O timming foi perfeito.
Senti-me muito honrada, com o convite, confesso.
É lisonjeador sabermos que os outros gostam do que escrevemos quando escrevemos para nós próprios mas numa janela aberta para o mundo.
Foi tudo cozinhado em segredo para baralhar os residentes do curral. Criei até um novo personagem. Deu-me uma trabalheira enorme andar a trocar de identidade para não deixar cair o disfarce, isto de passar por comentos capicua e não poder marcá-los porque quem o faz é a @na e não a moura é duro.

Foi ontem a coroação, aqui, assim.

Obrigada Cabra Mãe!

traição! ou não...


A propósito de uma situação que tenho seguido mais ou menos de perto, hoje acordei a remoer numa questão.

- Quando alguém de quem gostamos nos diz que gosta de outra pessoa, é traição?

É que a mim o que me parece é que não, mas o contrário sim. Isto é, ninguém é, ou deveria ser pressionado para gostar de outra pessoa, até porque é impossível fazer com que alguém goste de nós. Gosta-se ou não e, pronto. E, desengane-se quem achar que com o tempo se aprende a gostar de alguém, pode-se aprender algumas coisas, a gostar não.
Se alguém de quem eu gosto me diz que já não gosta de mim, mas sim de outra pessoa, eu posso sentir-me rejeitada, abandonada, desamada, traída não!
Sentir-me-ia traída era se a pessoa com quem partilhasse a minha vida amasse outra pessoa e não me dissesse nada, mantendo-me assim presa a uma relação tão falsa como o amor demostrado pelo objecto do meu.
Por muito sofrimento que se possa infligir a curto prazo a alguém dizendo-lhe que já não gostamos dela, mas sim de outra pessoa, não será melhor e mais facilmente ultrapassável do que viver numa mentira por tempo indeterminado, impedindo-a assim de estar livre para encontar o amor junto de alguém que consiga corresponder à altura? Que direito tem alguém de privar outro alguém do amor, mantendo uma farsa e omitindo dados tão vitais? Não seria mais justo para todos, pelo menos, deitar em cima da mesa todos os factos para que assim todos saibam as regras do jogo?

pelo som que vem da rua, é só o que me ocorre