Caixa dos fios
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2008
(494)
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novembro
(50)
- Crónica I
- fazer a minha parte ( I )
- United Colors of Benetton
- O meu rio chama-se Tejo
- Despedidas
- Hoje, só consigo pensar nisto
- Mas porque raio fiquei eu em casa?
- Gosto de capicuas
- Amiguinho
- Cada minuto conta
- vale dos anjos
- sabemos que temos de abrandar
- amanhã não fico em casa
- Respiração
- Probabilidades
- Mágoas
- Já te disse que
- hoje
- Juro que esta é das coisas que me tira mais do sério.
- instruções @rtigos delicados
- Há gajos que deviam bater violentamente com os cor...
- extravagâncias nocturnas
- acredito que sim
- Chaves
- da blogoesfera
- hoje
- afinal
- Quando o tamanho importa
- Chá das seis
- Mau génio não é mau feitio
- Viver com coragem
- Conclusão sobre uma possível vida passada
- Hoje, estou como ele
- Quase
- Palavras sem resto
- A sinceridade da amizade
- Tenho uma veia Tiffosi
- Esclarecimento à navegação
- é que não vale a pena contrariá-los
- tudo pode melhorar
- adoro
- ainda a propósito da amizade
- Domingo em grande
- Resoluções de Ano-Novo
- Eu já disse que odeio chuva?
- As moedas têm sempre duas faces
- Estendal
- Enquanto eu estiver assim
- sono em dia
- Varicela II
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novembro
(50)
30.11.08
Varicela II
Prevejo que no final da semana estou uma verdadeira pro a jogar The Cars na PS2.
sono em dia
27.11.08
25.11.08
As moedas têm sempre duas faces
24.11.08
Resoluções de Ano-Novo
- compras
- assuntos a tratar
- tarefas do dia
-prós e contras
(e agora até faço lista das listas que faço).
Nesta altura do ano, além das normais listas costumo fazer listas de objectivos. Primeiro faço uma lista com tudo o que consegui este ano, depois comparo-a com a lista de objectivos a que me propus à um ano atrás. Risco o que coincide, acrescento à lista do ano passado tudo o que consegui a mais e sublinho o que ainda falta fazer. Dos sublinhados sai uma nova lista de assuntos a resolver até dia 31 de Dezembro.
Depois de ficar uns bons momentos num exercício de contemplação por tudo o que consegui segue-se nova lista, a dos objectivos para o próximo ano. Está feita!
E se desde que criei este hábito as minhas listas têm sido cumpridas, a do próximo ano está a deixar-me algo preocupada e, não é por causa da crise, mas porque pela primeira vez todos os itens sem excepção estão muito mais dependentes dos outros do que de mim e essa dependência deixa-me algo expectante.
Veremos no fecho de contas de 2009.
23.11.08
Domingo em grande
A tarde foi de mães, filhos, chá e scones.
Gosto de dias assim!
ainda a propósito da amizade
Eu explico sempre todas as dúvidas do T. mesmo as mais "cabeludas", mas estava imenso trânsito e eu queria-me despachar, chutei para canto com a promessa que depois de ir buscar o irmão lhe explicava. Por acaso a coisa passou, apesar de eu não gostar de deixar questões destas em aberto.
Hoje, enquanto o T. me dizia que gostava muito dos nossos fins de semana porque tínhamos sempre amigos à volta e eu concordava com ele dizendo-lhe que temos de aproveitar o tempo fora do emprego ou da escola para estarmos com as pessoas de quem gostamos ele sai-se com a tirada:
"- Os amigos não nos dão pontapés quando estamos no chão, senão não são nossos amigos. No outro dia um amigo lá da escola estava com dores no ouvido e um colega começou a dizer que ele ia morrer, os amigos não fazem isso."
E eu fico assim, muito parva a olhar para ele pelo retrovisor do carro a perguntar-me porque raio fui eu pensar que o meu filho de 6 anos não tinha percebido uma conversa em sentido figurado...
22.11.08
tudo pode melhorar
Hoje o meu acordar foi marcado por uma dor de cabeça muito, mas mesmo muito, violenta. Não fosse ter de preparar leites para as crianças e garanto que não tinha levantado a cabeça da almofada. Claro que depois de me levantar e com os dois acordados, voltar para a cama tornou-se uma missão impossível, tomei o pequeno almoço, enfiei goela abaixo uma migraspirina, tomei um café e resolvi ir para a rua com eles que o A. estava insuportável de birrento.
A dor de cabeça lá passou, a manhã de quase-primavera convidou-me a sentar na esplanada a saborear um capuccino delicioso, com canela ao invés de chocolate. O T. pedalou, o A. arrastou o triciclo com os pés e eu andei de máquina em punho a registar a nossa manhã.
Soube-me bem apanhar ar, pôr as ideias em ordem, repirar o ar daquele sítio de que tanto gosto, que tantas recordações me traz e vê-los a brincar descontraídos.
(O T. também gosta de pessoas... de costas)
é que não vale a pena contrariá-los
Este rapaz é um fenómeno de imprevisibilidade.
Esclarecimento à navegação
21.11.08
Tenho uma veia Tiffosi
A sinceridade da amizade
A isto é o que muitas pessoas chamam de amizade sincera, vai de dizer tudo o que vem à cabeça tal qual os malucos. Não importa a forma o que importa é o conteúdo. Sim, escudados por essa bela palavra, a amizade, podemos espetar uma biqueirada bem assente no rim de um amigo só porque, assim como assim, o que interessa é passar a mensagem e, se não doer não se percebe.
Engano, dos mais elementares, a amizade não dá o direito de ferir os outros com sinceridades acutilantes, não vale a pena andarmos a pôr florzinhas onde só existem calhaus, nem oito nem oitenta, mas se há quem mereça respeito na forma como passamos a mensagem são os amigos. Eu não chego ao pé de quem gosto e digo: - Ò minha grande besta... Por isso também dispenço que me tratem como se fossem umas bestas insensíveis. Essas pessoas até podem ter outro nome, amigo, não.
E já agora, também dispenso o pontapé nos rins, se há sítio onde dói é aí e os meus são algo sensíveis.
Quase
É o quase que incomoda, que entristece, que mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.
Quem quase ganhou ainda joga,quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou.
Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas ideias que nunca sairão do papel por causa dessa maldita mania de viver no outono.
O que nos leva a escolher uma vida morna?
A resposta está estampada na distância e frieza dos sorrisos, nos abraços moles, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados e sem um sorriso.
Sobra cobardia e falta coragem até para ser feliz.
A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai.
Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são.
Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.
O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.
Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta somente paciência, porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.
Para os erros há perdão; para os fracassos, chance; para os amores impossíveis, tempo.
De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar a alma.
Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.
Não se pode deixar que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar.
Desconfiar do destino e acredite em nós próprios.
Gastar mais horas a realizar do que a sonhar, a fazer do que a planear, a viver do que a esperar porque, embora quem quase morreu esteja vivo,
quem quase viveu já morreu!!"
Sarah Westphal Batista da Silva
20.11.08
Conclusão sobre uma possível vida passada
- Fui gajo!
Só pode!
A tendência que eu tenho para ter conversas de homem-para-homem é surreal (principalmente sendo eu gaija), deve ser por isso que sempre quis filhos gajos e não havia quem me convencesse que que eu poderia ter meninas. Gajas?? A sairem-me do ventre? Beberam, concerteza!
Este blogue está a ficar repetitivo também já tinha aflorado o tema aqui.
Mas há dias em que fico assim, meia aparvalhada, percebo que não é acaso, desde sempre que tenho esta empatia com os homens. Eu tenho mesmo conversas de homem-para-homem e, não me estou a queixar, eu gosto. Tenho uma amiga que já me disse por mais de uma vez que eu sou um bocado gajo. Começo a dar-lhe razão, afinal, também gosto de futebol e de carros, mas não é só por isso, eu percebo-os, eles percebem-me e eu gosto muito de saber como é o outro lado, como pensam, como agem (ou não), gosto da partilha de informação. Como disse no outro post, desde os tempos de maria-rapaz que me entendi muito bem com o sexo da setinha, tenho vindo a aprender a entender-me com o da cruzinha com sucesso, mas aquela empatia, é mesmo com os gajos. (Já agora, gaijos, porque eles também se querem com pinta).
Viver com coragem
Viver com coragem é não desistir, é acreditar e lutar sempre, sem nunca desistir daquilo que queremos.
18.11.08
Mau génio não é mau feitio
Já estou habituada a ouvir os outros dizerem que tenho mau feitio, que é uma coisa que até me irrita um bocadinho, diga-se em abono da verdade. Isto não é mau feitio. Eu não tenho mau feitio, mau feitio não é ser honesta com os outros, gosto, gosto, não gosto, não gosto e digo-o e pronto. Lá de vez em quando alguém pisa o risco comigo e aí salta-me a tampa. Que nessa altura digam que tenho mau génio, vá... É verdade, admito-o, tenho mau génio, parto o que houver para partir, amuo, barafusto e tudo o mais que eu achar que tenho direito, porque naquele momento o que conta é o que eu acho, porque aquele momento é o momento em que eu rebento, em que extravaso tudo cá para fora, é o meu momento, é o meu grito de basta, só que é quando já não há volta a dar. Se rebento, se extravaso, foi porque andei a encher, a encher, até não caber mais partícula alguma de coisa nenhuma. Enchi, rebentei, acabou. E acaba mesmo, porque quando chega a este ponto, já nem remoer consigo, muito pouco ou nada há a fazer e, a mim resta-me arranjar mais um espacinho na gaveta dos casos arrumados.
Chamem-me radical, fria, mau génio, o que quiserem, mas lembrem-se que eu sou das que está lá quando os bonzinhos ou boazinhas assobiam para o lado. Mau feitio? Eu? Pffff... mau génio!
Quando o tamanho importa
Tenho uma pancada forte por sapatos, já o tinha dito aqui.
Ganhei-a após trabalhar algum tempo numa conceituada sapataria de Lisboa, numa altura em que só havia meia dúzia de lojas com marcas conceituadas. Marcas daquelas em que o sapato não traz um fio fora do sítio e em que o bom aspecto se mantém para além do uso. Mas já nessa altura e apesar do meu crescente interesse por sapatos, tive sempre imensa dificuldade em arranjar calçado para mim. O tamanho do meu pé não ajuda, calço um 40, com sorte e se a forma ajudar, porque cada vez mais as formas ditam o tamanho que tenho de calçar. Na altura em que trabalhei na dita sapataria intrigava-me a pouca quantidade de sapatos, botas e afins de tamanho acima do 39, eram quase inexistentes, mais me intrigava ainda, sabendo eu, que até havia procura dos ditos números. Tendo passado uns 10 anos desde essa altura, é com alguma preocupação que constato que ainda hoje é com enorme dificuldade que encontro tamanho que me sirva, o que não faz sentido nenhum. A população cresce (estou a falar de centímetros) cada vez mais, se eles estão cada vez mais altos, elas também, o tamanho do pé acompanha, mas ainda assim é complicado encontrar sapatos para mulher acima do 39 (um verdadeiro 39). A procura destes tamanhos não me parece que seja escassa, mas a escassez de modelos e de tamanhos é.
Às vezes pergunto-me se terei de abrir uma sapataria com o nome BigFoot à semelhança das lojas de roupas com tamanhos acima do 42 para poder ter alguma oferta de sapatos decentes que me sirvam. Quer-me parecer que seria um negócio de sucesso.
17.11.08
16.11.08
da blogoesfera
15.11.08
Chaves
Toco à campainha da vizinha do lado que tem uma varanda que faz paredes meias com a minha. A bendita parede tem mais de dois metros de altura e moramos num sétimo andar. A simpática da minha vizinha lá andou em busca de um escadote perdido. Escadote encontrado e toca de trepar. E lá vou eu, de brushing acabadinho de fazer e unhas pintadas. Subi, desci e entrei em casa perante o ar incrédulo da minha gata a ver-me entrar por uma porta diferente. Felizmente que hoje resolvi calçar uns tenis, não fosse dar-se o caso de partir um salto.
14.11.08
13.11.08
Há gajos que deviam bater violentamente com os cornos contra uma parede
instruções @rtigos delicados
12.11.08
Juro que esta é das coisas que me tira mais do sério.
Nas pequenas coisinhas isto pode até nem ter assim tanta importância, mas eu sou daquelas que às vezes venho distraída com os meus botões e fico a remoer porque podia-ter-abrandado-um-bocadinho-e-o-senhor-ou-a-senhora-que-estava-no-cruzamento-podia-ter-entrado-e-agora-vem-aí-uma-fila-que-não-acaba-e-ele-ou-ela-ficaram-ali-parados, não é importante, mas chateia-me. Claro que isto é a minha auto-crítica e por esta pequena amostra se não perceberam eu explico em duas palavras, detesto falhar! Também gosto muito de fazer as coisas à minha maneira, mas tenho aprendido que às vezes uma recolha de opiniões de fora ajudam muito, assim como pequenos avisos ou sinais encapotados ou não que os outros nos vão dando. Da mesma forma que não gosto de falhar, não gosto de desiludir, principalmente a mim, até porque volta meia volta vai haver sempre uma atitude, uma palavra, um gesto ou simplesmente um olhar que deixará alguém desiludido, mas a mim própria, não posso.
11.11.08
10.11.08
Mágoas
Provavelmente, o primeiro pensamento de qualquer um de nós seria poder apagá-las, eliminá-las e ficar com a pele sem réstia de marca causada pela gravação das tais mágoas. Mas se pensarmos bem no assunto, essas malditas marcas fazem parte de nós, ficam tatuadas na pele ou queimadas na carne conforme a força com que nos foram infligidas com um propósito e, esse é que verdadeiramente faz parte de nós, do nosso Eu. Se eu apagasse as minhas marcas apagaria, não só o que me fez ou faz (ainda) sofrer, como tudo aquilo que aprendi, interiorizei, melhorei e até cresci.
Ter-me tornado em tudo o que sou hoje como pessoa, está directamente relacionado com as minhas vivências, com pessoas que conheci ou com quem apenas me cruzei, com obstáculos transpostos, com caminhos abertos e, também com as mágoas que me marcaram. Não as vivo, não todas, a maioria pertecem ao passado e lá se devem manter, estão tratadas e cicatrizadas, mas as cicatrizes irão para sempre continuar comigo. Essas cicatrizes para as quais sorrio quando as vejo, afinal, eu sou quem sou também graças a elas e, eu não quero ser diferente de quem me tornei.
Probabilidades
Contra todas as probabilidades, fui ver um Sporting x Porto, eliminatória, ainda por cima. Contra todas as probabilidades o Sporting até jogou melhor. Contra todas as probabilidades o Porto joga pior que o Benfica. Contra todas as probabilidades, fui acompanhada de um tripeiro (devo estar insane). Contra todas as probabilidades e, de cachecol verde no pescoço fiquei na bancada reservada aos adeptos portistas (alguém chame uma ambulância com camisa de forças). Contra todas as probabilidades até festejei o golo do Sporting no meio de gente cheia de cachecóis azuis e brancos (haverá vagas no Júlio de Matos ou no Miguel Bombarda?). Contra todas as probabilidades vi prolongamento. Contra todas as probabilidades o Sporting perdeu nos penáltis. Contra todas as probabilidades gostei muito de ir ver este jogo.
A favor das probabilidades, tenho pena que não hajam mais jogos Sporting x Porto esta época porque foi com muito gosto que assisti ao jogo com um tripeiro como companhia. Fica combinado para a próxima época (numa bancada sportinguista, já agora).
8.11.08
7.11.08
sabemos que temos de abrandar
6.11.08
Cada minuto conta
Fazemos projectos, deixamos para amanhã coisas que devíamos dizer hoje, adiamos por uma semana jantares ou simples cafés com amigos, achamos que aquele telefonema que devíamos fazer a alguém pode ficar para um dia em que estejamos menos cansados, decidimos mudar algo mas só quando não nos transtornar demasiado porque agora andamos muito ocupados. Estamos sempre ocupados com coisinhas, com ninharias, com chatices com a família, com amigos, com colegas. Perdemos tempo precioso a trocar a ordem às verdadeiras prioridades porque tomamos o tempo como certo, como algo que nos pertence. Partimos do pressuposto que viveremos muitos anos, que a saúde existirá sempre. No meio da correria dos dias, das milhentas solicitações que nos surgem, no pouco tempo que temos para tudo, esquecemo-nos disso mesmo, temos muito pouco tempo para tudo e não sabemos quanto nos resta. Não será altura de olharmos para o que realmente importa?
5.11.08
4.11.08
3.11.08
Hoje, só consigo pensar nisto
Concedei-me, Senhor,
SERENIDADE para aceitar as coisas que não posso modificar,
CORAGEM para modificar aquelas que posso, e
SABEDORIA para distinguir umas das outras.
2.11.08
O meu rio chama-se Tejo
por isso desculpem qualquer coisinha, mas eu quero poder olhar para ele sem ter de subir a uma ponte ou andar mais para trás ou para a frente. A petição aqui
United Colors of Benetton
fazer a minha parte ( I )
Amanhã, vou de chávena atrás de mim. Acabaram os copos de plástico.
Crónica I
"Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo.
O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria. Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo".
O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas. Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas.
Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?
O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar.
O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente.
O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."
Miguel Esteves Cardoso, in Expresso