29.8.09

7 anos

Dizem-me que estás demasiado apegado a mim. Como é que um filho pode estar demasiado apegado a uma mãe? Existe demasiado?
Foste desejado e planeado até ao ínfimo pormenor. Sempre desejei ser mãe e tu foste o meu primeiro bilhete de lotaria premiado. Sorte grande e aproximação numa só jogada. És tudo quanto desejei e mais. Conseguiste ultrapassar todas as minhas expectativas. Lembro-me, tu ainda estavas dentro de mim, de pedir, entre muitas outras coisas mais importantes que as mães pedem, que fosses um bebé bonito. E eras. Parvoíces de primeira viagem, mas foi ouvida.
Há sete anos atrás, depois de muitas horas em trabalho de parto sem epidural, lá nasceste. Não senti o que estava à espera. Sonhava que ao primeiro olhar ficaria apaixonada por ti, não fiquei, olhei para ti e percebi que estarias ligado a mim para sempre, mas a paixão, essa foi crescendo com o passar dos dias.
Cresceste e tornaste-te em muito mais do que alguma vez pedi ou consegui imaginar.
Obrigada por todos os dias encheres a minha vida.


26.8.09

vitórias [o que eu passei para aqui chegar]

Consegui.
Finalmente consegui.
Venci.
Perdi batalhas graças ao uso da chantagem, essa arma tão nojenta e tão fácil de ser usada por quem não tem tomates para enfrentar um opositor com dignidade.
Perdi batalhas por me deixarem de mãos e pés atados, porque é tão mais fácil cortar as asas a alguém do que deixar voar.
Ganhei batalhas porque paguei o que me era exigido, porque movia céus e terra se necessário fosse, porque a minha liberdade, essa, assim como eu, não há cheque que pague.
No final, vencem os bons, os que agem com convicção, com força para enfrentar quem aparecer pela frente, os que mesmos que depois de cairem se levantam, os que não se vendem, os que acreditam que a vitória é possível, mas sobretudo os que sonham e que sabem traçar metas e desenhar caminhos para lá chegar.
Vencem os que vão a jogo.
E, hoje, no dia em que celebro uma das minhas maiores vitórias, olho para trás, porque é quando olho para trás que sei do que sou capaz, vejo o que eu passei para aqui chegar.
Cheguei e cheguei de pé.


23.8.09

que bem se está no campo II

Eis que de repente a casa se encheu, mais adultos, mais crianças porque as casas querem-se cheias. Muitos saltos para a piscina. O T. surprende pela forma como já nada e braçadeiras já são acessórios prescindíveis. O A. continua feliz e contente com a "sua água". A bicharada também cá continua, ou não estivéssemos no campo. "Abelas" e "môcas" lá fora são aos montes, cá dentro e mortos, pois claro, já se contam várias aranhas, dois louva-Deus, duas centopeias, um genocídio de moscas e ontem uma vespa no meu quarto [arghhhhh, ca noijo]. Mas se as nossas aventuras fossem só de bichos isto era demasiado calmo, para animar o T. resolveu deixar a chave do meu carro dentro da bagageira com o carro trancado. Pois. Telefonema para a assistência da Ford que só consegue resolver rebocando o carro para uma oficina e fazendo uma chave. Telefonema para a seguradora que vai enviar assistência, mas a assistência telefona a dizer que vai rebocar o carro mas que não se responsabiliza por danos causados com o reboque [???]. Reboque não quero, obrigada. De casa, as buscas da chave suplente mostram-se insistentes mas infrutíferas. Não páro de pensar onde poderá estar a malfadada chave, mas com tudo encaixotado e o único caixote provável não ter rasto da dita não facilita. Faço uma marcação na Carglass para amanhã e de calhau na mão tento partir o vidro lateral direito, mas nem partir um vidro do meu próprio carro podia ser uma tarefa fácil. O único ser masculino da casa com mais de 7 anos vem em meu auxílio com aquele ar de superioridade que todos os homens têm quando ajudam uma mulher. Várias tentativas depois, lá consegue. E assim se passa uma tarde animada a apanhar vidros do meu próprio carro, vidro que só não fui eu própria a partir propositadamente, porque nem isso podia ser fácil. No meio disto tudo, o T. só me vai dizendo que nunca mais se esquece da chave dentro do carro. Assim espero.


21.8.09

que bem se está no campo

até ter de mudar uma bilha de gás e ter de meter os meus ricos bracinhos num armário com pelo menos q-u-a-t-r-o osgas [arghhhh].
Não fosse pelos miúdos e acho que fazia um tratamento à pele com banhos de água fria, assim como assim e arrepiada por arrepiada, preferia a água fria.


espanto de mãe

O A. está a arrumar as cartas do irmão na caixa, pergunto-lhe se quer que o ajude.
- Não, obigado!
[baba de mãe a escorrer]


20.8.09

histórias de amor I

Parafraseando uma amiga, sou pirosa, gosto de histórias de amor. Touxe uma nas férias que tinha começado a ler ainda em casa, há dois dias que andava a devorar o livro, acabei-o hoje, antes da sesta. Sempre que acabo um livro que gosto de ler fico com uma sensação de vazio. Acabou. A história fica a pairar-me na mente até me conseguir embrenhar no próximo. Desta vez vai-me custar mais, esta história tem muito dos meus sonhos. Também eu gostava de encontrar o meu paraíso. Um lugar que me prendesse, que me fizesse deixar tudo e mudar-me de "armas e bagagens". Um lugar em que o seu ritmo fosse marcado pelas estações do ano, em que os alimentos mudassem conforme as colheitas, um lugar que permitisse que os meus filhos crescessem livremente e rodeados de pessoas que realmente se interessam. A história que acabei de ler é o meu sonho transformado em páginas escritas de um livro.


19.8.09

normalidade

Afinal o que é a normalidade? Será que consideramos a normalidade como sendo algo que devemos seguir ou ter porque é normal? Porque o rebanho segue por um determinado caminho? Porque o rebanho age de determinada forma? E porque seguem aquele caminho? E porque agem de determinada forma? Será porque é essa a expectativa? E quem não segue? É anormal? É diferente? São as ovelhas negras? São "desrebanhados"? Pode ser que sejam tudo isso, ou não. A questão fulcral é mais como se sentem. Não é fácil ser diferente e se não é fácil aos olhos dos outros aos nossos é ainda mais complicado. A normalidade incutida ao longo da vida, da educação passada de pais para filhos, da maioria que nos rodeia, dificulta a aceitação. Nem sempre a normalidade, que até pode ser bestial para a minha vizinha de baixo e, se calhar para a do lado, tem de me servir e pode, até, revelar-se uma verdadeira besta que me martiriza. E aqui surge uma tremenda luta interna. Se parar para pensar, se analisar prós e contras com toda a clareza, percebo que a minha normalidade é diferente da dos demais, mas é boa para mim e a normalidade dos outros, vista sobre a mesma perspectiva, pode ser castradora e mensageira de chatices com as quais teria de lidar e que ameaçariam a minha paz. Então porquê? Porque me continuo a bater por essa normalidade? Se não estou mal com a minha, se a dos outros pode ser pior, porquê? Talvez por grande parte da minha existência ter sido pautada por uma normalidade completamente diferente da dos outros, a das convenções, agora que está nas minhas mãos a busque. Mas como em quase tudo na vida, acredito que a tomada de consciência de certas coisas me ajuda a distinguir o certo do errado, ou pelo menos, do menos certo, para mim, para a minha normalidade e, assim o rebanho seguirá com a sua e eu serei feliz com a minha.


18.8.09

descobertas

o T. descobriu os prazeres de um prato de bom melão com presunto.


a calma dos dias

Os nossos dias têm sido calmos. Muito sol, muitos mergulhos e brincadeiras na piscina. Pequenos almoços tomados sob o sol da manhã. Churrascos no carvão ao almoço e ao jantar. Aproveitamos o calor da tarde para pormos o sono em dia antes de mais uma tarde de saltos para a água. A minha leitura está em dia e aproveito a distância e o sossego para alinhar ideias e analisar o último ano. Não vivo do passado mas com ele corrijo trajectos do futuro. Nem sempre há tempo para pensar na vida, no meio da correria dos dias não sobra tempo para "olhar" para as coisas como elas são, ao invés, olhamos para elas como gostaríamos que fossem. Faz-me bem a pausa, a ausência de horários e o tempo sem nada para o encher. Faz-me bem ter os meus filhos a encherem-me o coração, neste tempo só nosso, faz-me bem o isolamento. Afinal, não vale de nada tapar o sol com a peneira. As coisas são como são e ter consciência delas é o primeiro passo para corrigir o que está mal. Mas as correcções ficam para depois, por agora vou-me manter a pairar nesta calma e recarregar baterias ao sol.


17.8.09

férias - a primeira saga - a piscina

O mais velho passou o fim de semana entre mergulhos para a piscina dos crescidos, o mais novo ao mínimo sinal de aproximação recebia um aviso de décibeis elevados [ouvi dizer que os insectos da região estão surdos]. Cansada de o ver na piscina minúscula do Mickey, hoje de manhã corremos os hipers todos da região em busca de uma piscina maior. Claro que, como nada pode ser fácil, só no último é que encontrámos uma com o tamanho ideal. Piscina comprada e rumámos para casa. Depois de almoçarmos e de dormirmos uma sesta, chegou a hora fatídica de encher a nova piscina. Sem bomba e com uma piscina quase maior do que eu, não havia fôlego que aguentasse, felizmente o meu carro é daqueles que vem com kit em vez de pneu sobresselente. Assim, de repente, ocorreu-me, fui à bagageira buscar o kit e toca de encher a dita. Claro que o toca a encher não foi assim tão rápido, mas lá encheu e agora o mais novo está feliz e contente dentro da sua nova piscina.


15.8.09

a última noite

Hoje é a última noite nesta casa. Talvez por isso adio a hora de me deitar. Vou descobrindo mais coisas para empacotar e, assim, vou adiando aquele que será o meu último sono dentro destas paredes. A casa não me deixa saudades, desde que para cá vim morar que havia qualquer coisa que não me fazia sentir em casa. Até hoje não percebi o quê. Mas sei que vou ter saudades da varanda, tão aprazivel em noites como a de hoje. Vou ter saudades da varanda dos brinquedos, que permitia que o quarto dos miúdos estivesse sempre arrumado. Vou ter saudades da sala que tantas pessoas queridas albergou em jantares e almoços. Vou ter saudades da cabine de duche, de que tanto me orgulho. Vou ter saudades da cozinha, estudada até ao último detalhe, onde todos insistiam fazer sala. Vou ter saudades de algumas coisas, da casa, por si só, não.
A minha próxima noite em casa será na minha verdadeira casa. Uma casa só minha, apenas em meu nome, sem mais ninguém e sem senhorios. Mais um passo. Mais uma meta que cruzo. Lutei, trabalhei e consegui. A minha única dívida será para com o banco e mais ninguém. Minha!
Esta nova casa, não será apenas uma casa, será um lar, para mim e para os meus filhos. Faço questão de a transformar com todas as ideias que me borbulham na cabeça para que nunca, ao cruzar a porta da entrada sinta que não estou em casa, verdadeiramente.
E irei enchê-la de amigos, como sempre, porque a minha casa é o meu refúgio e os meus amigos têm sempre a porta aberta.


12.8.09

mau génio não é mau feitio [repost]

Sou exigente, sou e admito-o. Sou-o comigo e com os outros a quem entrego o meu ouro. Costumo dizer ao T, durante as birras parvas dele que eu não mereço que ele esteja a fazer aquele pé de vento porque eu não mereço. Faço-lhe todas as vontades, negoceio com ele, explico-lhe tudo, se lhe digo que não é porque não pode mesmo ser e é injusto que ele arme um circo por algo que eu lhe disse que não. Sou exigente, o miúdo só tem seis anos e eu espero que ele no meio daquela massa cinzenta em que decora nomes de jogadores de futebol, tácticas de jogo, ditongos, palavras novas que assimila todos os dias e milhares de outras coisas que absorve que nem uma esponja seca, no meio de uma loja de brinquedos se lembre que eu lhe estou a dizer que não porque este mês já gastei mais do que devia e, ele tem de perceber. Sim sou exigente com ele. Mas sou-o comigo também. Perco-me em explicações, desdobro-me com correrias de um lado para o outro para conseguir satisfazer suas altezas reais no meio das minhas próprias necessidades e responsabilidades. Com as outras pessoas, com as que de facto me importo acontece o mesmo, sim sou exigente, não me digam que gostam de mim para depois ao primeiro aí que me saia me dizerem ahetalegostavadeteajudarmasnãoposso. Badamerda!!! Eu se gosto estou lá nem que tenha de virar o mundo ao contrário. Gritem lá um aí e vão ver se eu não estou plantada à porta. Não estou? Pois, se calhar já fui brindada também e houve uma descida de divisão. É assim... E desengane-se quem achar que o faço por vingança, faço-o mesmo porque se há coisa que não sou é parva (só quando me faço). Não posso estar sempre a dar qual vaca leiteira sempre pronta a ser espremida e receber palha seca em troca. O leite seca. Dou muito de mim, preocupo-me, estou lá antes do aí, estou lá até no falso alarme. Mas não me fodam.
Já estou habituada a ouvir os outros dizerem que tenho mau feitio, que é uma coisa que até me irrita um bocadinho, diga-se em abono da verdade. Isto não é mau feitio. Eu não tenho mau feitio, mau feitio não é ser honesta com os outros, gosto, gosto, não gosto, não gosto e digo-o e pronto. Lá de vez em quando alguém pisa o risco comigo e aí salta-me a tampa. Que nessa altura digam que tenho mau génio, vá... É verdade, admito-o, tenho mau génio, parto o que houver para partir, amuo, barafusto e tudo o mais que eu achar que tenho direito, porque naquele momento o que conta é o que eu acho, porque aquele momento é o momento em que eu rebento, em que extravaso tudo cá para fora, é o meu momento, é o meu grito de basta, só que é quando já não há volta a dar. Se rebento, se extravaso, foi porque andei a encher, a encher, até não caber mais partícula alguma de coisa nenhuma. Enchi, rebentei, acabou. E acaba mesmo, porque quando chega a este ponto, já nem remoer consigo, muito pouco ou nada há a fazer e, a mim resta-me arranjar mais um espacinho na gaveta dos casos arrumados.
Chamem-me radical, fria, mau génio, o que quiserem, mas lembrem-se que eu sou das que está lá quando os bonzinhos ou boazinhas assobiam para o lado. Mau feitio? Eu? Pffff... mau génio!

[fiossoltos 18/11/2008]



11.8.09

razões

Existe pelo menos uma razão para que as pessoas evitem fazer mudanças com crianças à mistura.


5.8.09

até que nos cruzemos outra vez

Não me vou esquecer do sorriso de cumprimento, nem do rasto de perfume que deixava nos corredores. Não me vou esquecer da fatia de bolo que fez questão de me servir, nem do toque afável no braço numa festa. Não me vou esquecer que crescemos todos de mãos dadas com ele. Não me vou esquecer do carisma que emana, do cavalheiro que sempre mostrou ser ou do ser humano que embora poderoso sempre fez por ajudar quem dele precisou.
Hoje, na despedida, chorei porque sei que faz falta. Cargos e funções podem ser substituíveis, pessoas não. Há, de facto, pessoas insubstituíveis e este homem faz parte dessas pessoas.
Faço questão de não me esquecer de todas estas pequenas coisas que fazem com que este homem seja tão grande, até que nos cruzemos outra vez, num qualquer corredor, onde trocaremos cumprimentos e sorrisos e que após a sua passagem fique o cheiro do seu perfume. Até lá, não me esquecerei, mas sentirei a sua falta.


3.8.09

claridade froxa

Embora eu possa pensar que o melhor não é o que acontece, o que acontece é mesmo o melhor e, embora eu não o consiga ver com clareza, o crepúsculo faz-me sentir que sim.


1.8.09

pastéis de Belém

Hoje o meu dia começou cedo, às 8h30 já estava a fazer um electrocardiograma e menos de 5 minutos depois tiraram-me sangue. Uma manhã de sábado nublado em Agosto é um bom dia para fazer um check up. Depois dos exames todos feitos foi a vez da consulta médica. O médico podia ser meu avó, tem 82 anos, uma simpatia e boa disposição contagiante, anos de aprendizagem que vão muito para além dos conhecimentos médicos, uma aprendizagem de vida invejável. Rapidamente concluí que é daquelas pessoas que consegue "ler" quem lhe aparece à frente. A mim, pelo menos, pela conversa, "leu-me". Enquanto debitava perguntas do questionário médico foi-me dizendo que eu não parecia ter a idade que tenho, "porque as patadas da vida, o ritmo com que vivemos os nossos dias, os desgostos e as preocupações adoecem as pessoas. As pessoas vivem tristes e deprimidas. A menina não tem 35 anos!"
Gostei de o ouvir dizer aquelas palavras, gostei quando me disse "continue assim. Faça a viagem da vida com alegria e optimismo na bagagem, deixe um espaço grande para o amor. É importante amarmos quem nos rodeia. Na sua mala nunca deve haver espaço para ódios e, não se esqueça nunca de mostrar aos seus filhos como devem fazer a mala deles. Ainda um último conselho, compre uma mala com rodinhas por causa das costas."
Em resposta armei-me em engraçadinha e questionei: "- Mas essa bagagem não é leve?" Ao que, prontamente, com o seu ar de avô me respondeu: "- A bagagem não é pesada, mas as lembranças com que vamos carregando a mala são, porque se não as guardar não lhe servem de nada."
Saí do consultório com uma despedida calorosa e percebi que este Senhor me marcou. Ele próprio é uma lembrança que coloquei dentro da minha mala. A partir de hoje sempre que comer um pastel de Belém vou-me lembrar do médico-sábio de 82 anos, diabético, que enquanto miúdo gastava a mesada em pastéis. Vou-me lembrar que o médico-sábio, que um dia me "leu" só come pastéis de Belém em ocasiões especiais e, por isso, sempre que eu comer mais um pastel, para mim será um momento especial porque me vou lembrar das palavras do médico-sábio, na Lisboa nublada numa manhã de sábado de Agosto.