Caixa dos fios

4.8.08

as viagens da minha vida

duas horas e meia de viagem a remoer na discussão ao telefone imediatamente antes começar a ver Lisboa pelo retrovisor. Carro entre os 140 e os 160 Km/h, nas descidas 180, o cérebro a 1100, quase queimava a junta da cabeça ou do que restava dela. Ânimo, nenhum. Raiva muita. Duzentos e tal quilometros não chegam para arrumar tanta barbaridade. No horizonte a expectativa onde me tentava abstrair.
À chegada, sorrisos de recepção e portas escancaradas. - Sintam-se em casa!
Era a casa de uma prima pouco mais velha com quem brincávamos na infância. Conhecermo-nos como quem põe a conversa em dia. Redescobrir numa e noutra conversa que o mundo é pequeno e Portugal é um ovo. Pedi conselhos de profissional e partilhámos histórias.
Eu senti-me em casa!
Tive pena de ter desperdiçado algumas horas a ir a uma festa do tipo que invariavelmente me arrependo. A conversa no alpendre, embalada na rede das aranhas, com as figueiras ao fundo e as osgas como testemunhas tinha sido uma noite bem melhor. Valeu-nos o chá e o leite por entre cigarros e muitos dedos de conversa à chegada até irmos dormir ao mesmo tempo que o dia acordava.
Acordar com o sol a entrar de rompante pelo quarto, a casa silênciosa, fazer o telefonema para casa a saber como estão os miúdos. De mão dada com a Clarinha, vamos tirar fotografias ao lago e ver os patos e os cães bebés. Café para acordar e torradas acompanhadas de muito mais conversa. O aperto que começa a surgir com a hora de regressar. E custa-nos sair. A despedida tão natural como a chegada. Cultivar uma amizade é gratificante para quem gosta de pessoas. A vida coloca-nos muitas vezes pessoas pela frente que por vezes nem damos conta, tão atarefados que estamos na nossa vidinha. Se lhe dermos um pouco mais de atenção e oportunidade talvez consigamos ver um pouco mais longe. Talvez consigamos ver que não será concerteza fruto do acaso.
Tão pouco tempo e tanto para contar, assim, muitas vezes se escrevem grandes histórias. O prólogo é prometedor disso mesmo.
Dar uma cara aos olhos que sobressaem do fundo azul, sentir a cores a força de uma grande mulher que nos abre a porta e nos recebe de braços abertos como se nos conhecesse desde sempre. Em menos de 24 horas foi feita uma nova sementeira, resta-nos regá-la e adubá-la.