Caixa dos fios

10.8.08

a falta de escrever


Houve uma altura em que escrevi muito, era uma necessidade libertar sentimentos que me trespassavam. Precisava de descrever o que sentia, para eu própria perceber, mas também para tentar que quem de direito entendesse o que eu sentia.
Todos os dias, às vezes mais do que uma vez por dia, escrevia, a maior parte das coisas que escrevi, reli, várias, muitas vezes. Confesso que muitas dessas vezes fiquei um pouco atónita com as palavras, as frases, carregadas de sentimento que foram resultado do meu próprio teclar. Por vezes à distância de um ou dois dias, perguntava-me como tinha sido capaz de tamanha emotividade num emaranhado de palavras.
Devido a circustâncias da vida e dos próprios sentimentos a minha escrita tornou-se mais escassa. Também, confesso, que depois de tanto escrever, cheguei a um ponto em que acho tudo demasiado repetitivo, não me refiro ao que escrevi, mas ao que escreveria se continuasse, seria sempre uma alteração ao escrito anteriormente pela forma e não pelo conteúdo.
A minha "musa inspiradora" tem estado ausente, digamos assim, é um facto. Eu preciso de sentir para escrever o que eu própria gosto de ler, quer seja à distância de um minuto, de dias ou mesmo meses. Estou a passar por uma fase de torpor dos sentidos. Sei o que sinto, mas é-me muito complicado de descrever, está tudo demasiado intricado. Tenho tido a cabeça a mil à hora e escrever a esta velocidade torna-se complicado.
Porém, e apesar de tudo o que me faz não escrever, percebi hoje que é uma das coisas de que sinto falta. Deitar cá para fora. Mais ou menos articulado. Mais ou menos emotivo. Perceptível ou não. Faz-me bem escrever. Faz-me bem partilhar sentimentos. O que escrevo quase nunca é muito pensado à anterióri, os meus pensamentos fluem demasiado depressa para que me possa permitir a estruturar o que quero escrever. Normalmente, perante uma situação, ou um sentimento, penso exactamente no que estou a sentir e não elaboro mais nada, evito pensar muito sobre o assunto, a não ser quando estou num local que me permita escrever à medida que encaixo tudo na minha mente e vou compartimentando todos os pensamentos para que fiquem bem arrumadinhos. Recuso-me a fazer rascunhos, não adianta. De todas as vezes que o fiz o resultado final foi completamente diferente. Com tanto corta e coze perco completamente o meu fio condutor. Por isso quando me apetece muito escrever, não aprofundo até poder escrever em sede própria.
Hoje percebi que sinto esta falta, a falta da escrita, a falta da partilha. Os meus sentimentos são sempre dirigidos a pessoas e/ou situações. Podem nem sempre ser agradáveis de ler a quem são dirigidos, mas, lá está, é a única via que tenho para conseguir "encaixar" o que eu própria sinto e penso e, sinto falta desse "encaixe".
Escrever um texto dirigido a alguém, para mim, é muito mais fácil do que horas de conversa, talvez porque sendo um texto acaba por ser um monólogo e consigo transmitir, pelo menos aos meus olhos, tudo o que me vai na alma, sem pudores, sem ter de me moderar e não o tenho feito, não há velocidade do que tenho sentido e pensado.
Gosto de escrever para os outros, talvez porque me dá um prazer enorme ler o que os outros me escrevem.
E faz-me tanta falta preencher este vazio.