30.7.09

o campeão está de volta



casca de noz

Hoje consegui dar uma imagem ao que tem sido a minha vida: Um rio. Mas não é um rio qualquer, não é um rio daqueles que parte da nascente numa fiada e se transforma num rio grande e de águas calmas. O rio que é a minha vida, é um rio cheio de rápidos, tem pedragulhos enormes dos quais tenho de me desviar apesar de viajar numa casca de noz. Nas margens do rio vivem árvores enormes que de quando em quando, depois de me conseguir desviar de mais um obstáculo, um madeireiro corta e caí sobre o rio já ele cheio de correntes e remoinhos. Ali, numa tangente à minha casca de noz, provocando mais um obstáculo ou mais uma alteração nas águas que me empurra para longe da meta. Meta essa que não é mais do que chegar à foz sã e salva. Eu e a minha casca de noz.


dar a volta por cima

As minhas raízes ficaram tão lá atrás no tempo que não me posso permitir dizer que me orgulho de onde vim, posso com toda a honestidade orgulhar-me até onde já cheguei e de quem sou. Hoje sei que poderia ter agido de outra forma em relação a tantas coisas, agora, mas agora é fácil, difícil é olhar para trás e perceber que naquele preciso momento tomei a decisão mais acertada, agi, provavelmente, em direcção à única saída possível e, se não, à única que consegui vislumbrar. Tenho muitos esqueletos no armário, muitos mesmo, mas estão arrumados, eu sei que lá estão e por saber deles ali, já não me incomodam, não conseguem. Vivemos, assim, todos em harmonia, eu e os meus esqueletos guardados no armário.


27.7.09

construções



















"Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo."
[autor desconhecido]



23.7.09

"tão pecanino"

O A. enrosca-se em mim a pedir mimos. Pega-me na mão e faz festas a ele próprio. Sente a minha pele e faz-me festas. O A. a dois meses de fazer três anos tira a manta de cima dele e vai tapar o irmão. O A. ao meu "-Boa noite, tenham sonhos cor-de-rosa", responde-me sempre:
"-Pa ti também mamã."

há pessoas

a quem me apetece dizer-lhes: GET A LIFE!
Mas depois percebo que isso é dar-lhes demasiada importância e deixo andar. Afinal há vidas tão ocas.

mudanças [pretérito imperfeito]

Eu poderia meter todas as minhas coisas em caixotes, depois, móveis e caixotes numa camioneta [ok, não era eu, mas os senhores da transportadora], depois descarregavam tudo, não a poucos km, mas a alguns mais. Passaríamos alguns dias a desencaixotar tudo e a arrumar nos novos sítios. Mas o importante seriam os novos sons, as novas rotinas, a nova paisagem, enfim, a nova vida. Acordaríamos com vista para a planície [ou para o ribeiro onde os patos se banham], no Verão tomaríamos o pequeno-almoço sentados na mesa do alpendre, depois da primeira refeição do dia, iria levar as crianças à escola e iria tratar do meu ganha pão. À tarde, iria buscá-los novamente e lanchariam em casa, canecas de leite e pão alentejano com doce caseiro [sim, sei fazer doce!]. De barriga cheia iriam trepar a árvores, chatear os patos no ribeiro ou até mesmo jogar à bola e eu andaria entretida na horta em busca de inspiração para o jantar. Os banhos a seguir aos trabalhos de casa seriam tomados ainda com o sol à vista e o jantar seria servido no cair da noite. As noites teriam grilos e cigarras como músicos e depois dos miúdos estarem na cama, sentar-nos-íamos no alpendre a beber café com um cão deitado aos nossos pés.


22.7.09

nem tudo o que luz é ouro

Eu tenho noção que me poupava um bocadinho [muito, vá] se não tivesse razão em tantas coisas. Também tenho noção que o meu 6º sentido nem sempre me ajuda. Se por um lado me poderia evitar alguns amargos de boca, a verdade é que não os evita, enaltece-os, tenho-os antes do tempo devido e fico com a boca amarga mais tempo do que é suposto. Este meu lado extra-sensorial é bom para evitar que caia em armadilhas, não são poucas as vezes que um inexplicável "mau feelling" em relação a algo, alguém ou alguma situação me poupa de dissabores no futuro. O problema coloca-se quando não há escapatória, ou quando o caminho alternativo não é do meu agrado, nestes casos de nada me vale saber o que vai acontecer, não me poupa, não me liberta, não me obriga a evitar a desilusão ou o sofrimento, ao contrário, tudo isto começa antes de tempo. E, assim, há dias em que eu dispensava os meus feellings, a minha razão, as minhas, vá, professias. Dispensava tudo isto e era uma perfeita ignorante, mas muito mais feliz.


21.7.09

mini-chefs





















Já tive a saga McQueen, meses a ver o Faísca plantado no ecrãn da sala. Ora aparecia em corrida, a asfaltar uma estrada, mas qualquer que fosse a hora, lá estava ele. A verdade é que o A. começou a falar e a fazer-se entender tão bem que não consigo tirar da cabeça que foi graças a horas infindáveis à frente do ecran. Depois do Cars veio o Madagascar e todos os "tontos" animais que o acompanhavam, primeiro foi a saga do 2 depois a saga do 1. Semanas de Madagascar e de Rei Juliano. Pelo meio meteram-se outros filmes mas não tiveram direito a tantas reposições.
Não disse, mas o cinéfilo da casa é o A., o irmão na maioria das vezes cansava-se a entretinha-se com a PS2.
Agora temos novo filme em cartaz. Há um mês [pelo menos] que cá em casa é Ratatui de manhã à noite. O dvd nem chega a ser desligado. À noite quando se vão deitar, o filme fica em pausa para a manhã seguinte, de manhã o filme fica em pausa para quando chegam da escola. Mas desta vez, não é apenas o A. o responsável, o T. adora o Ratatui e eu estou quase tentada a inscrevê-los num curso de culinária, tal é a alegria deles em verem o rato a cozinhar.


19.7.09

o passar dos dias

Eu tenho um problema com o passar dos dias, o que me leva a crer que noutra vida devo ter morrido prematuramente, sinceramente, não encontro outra justificação.
Sempre que me saí uma barbaridade boca fora do tipo, "nunca mais é nãoseiquando" tenho logo de seguida uma súbita vontade de me esbofetear. A sério!
A vida é demasiado curta, cada dia que vivo é menos um dia que vou viver, cada dia que desejo que passe a correr para que um outro lhe suceda, é menos um dia vivido. Viver a pensar que amanhã estou cá é demasiado optimista, a verdade é que não sei se estarei. E, não, não é um pensamento mórbido, é realista. Acho lamentável que seja necessário sermos postos à prova com uma doença que nos dá um prazo de término para deitar-mos às urtigas merdinhas e coisinhas sem importância e dedicarmo-nos realmente ao que queremos e a quem gostamos. Não tive nenhuma experiência quase-morte, mas há momentos em que sinto que é como se tivesse tido. Não me angustia, apenas me faz lamentar não ter ainda mais esta noção. Existem muitas coisas com as quais já não me stresso, mas muitas mais existem que gostaria de tirar da cabeça e ganhar espaço e tempo para as que são realmente importantes.
Sempre que estão comigo, não há dia em que não diga aos meus filhos o quanto os amo, o quanto são importantes para mim. A ideia de que um dia posso já cá não estar e não lhes ter dito com todo o meu sentir, essa
sim, angustia-me.
É
importante dizer o quanto gostamos de alguém enquanto conseguimos dizê-lo e enquanto nos conseguem ouvir. É importante relativizar as coisas e as pessoas. Dar importância a quem realmente a tem não é fácil. Deixar de lado quem tem lugar de destaque na nossa vida é um erro crasso e comum. Por lá estar, por ser importante é ainda mais urgente dizê-lo, mostrá-lo. No fundo, viver.



10.7.09

dois é a conta que Deus fez

Antes de me deitar vou sempre ao quarto deles, um beijinho, uma festinha, um tapar, um apanhar de chucha ou apenas um toque ao de leve. À duas noites atrás, não foi excepção, ao tapar o T. ele sentiu-me e agarrou-me na mão e ficámos assim, de mão dada, o A. na cama ao lado sentiu-me, enquanto eu de cócoras estava apoiada na cama dele, puxou-me a mão e deu-me a maozinha dele. Fiquei, assim, de mãos dadas, uma a cada um e, de repente, ocorreu-me, se fossem três ficava um de fora. Eu, que tinha passado grande parte da noite a marterizar-me com o facto de o meu útero estar envelhecido e que provavelmente não terei o tormento de mais uma gravidez nem a alegria de ter mais um filho, fui -me deitar com um sorriso descansado.

8.7.09

[é que nem me ocorre um título]

110€ de imposto de circulação?????

[preciso de ar enquanto não se paga]


post de balanço

Já fez um ano que resolvi dar o grito de liberdade, virar a minha vida do avesso, sacudi-la do pó que tinha juntado ao longo dos anos para poder esticá-la qual colcha lavada em cama a cheirar a amaciador e sol.
Foi um ano duro, confesso, mas tem valido a pena. Ao longo do último ano aprendi mais sobre mim, sobre quem realmente sou, do que talvez em anos.
Tornei-me independente, senhora do meu nariz, estabeleci novas metas, ultrapassei obstáculos e cresci, cresci muito. Aprendi que a força vem de dentro, das crenças que alimento, dos objectivos a que me proponho. Tornei-me melhor mãe, melhor pessoa e muito melhor amiga. Testei a minha paciência e descobri que, no meio da minha impaciência, tenho uma calma que desconhecia.
Descobri que a vida é curta de mais para deitar tempo pela janela. Que existem pessoas por quem não vale a pena perder um segundo ou dizer mais do que o necessário e, que existem pessoas que merecem que largue tudo e vá a correr à primeira chamada. Finalmente, senti o verdadeiro valor da amizade. Vi com quem posso contar e de quem escuso de esperar alguma coisa.
E, talvez por isso ou por apenas ter acordado, sinto-me premiada pela vida, neste último ano senti que entrei na estrada certa, que tinha andado perdida por entre atalhos e vielas e, que agora sei qual é o caminho. Finalmente acertei.
Agora, olho para trás, para o último ano, para os que o antecederam e vejo a luta, o esforço sem me esqueçer de todas as lutas que enfrentei, todas as barreiras que tive de derrubar, das noites sem dormir, das aflições por que passei ou das lágrimas que chorei. Não me esqueço, porque tudo isto me diz de onde vim e só assim tenho verdadeira noção onde cheguei e de quem sou.
E, por saber tudo isto, tenho um orgulho em mim própria que não consigo descrever mas do qual não me quero, nem posso esquecer.

aprender com os erros

quando não quero ouvir uma resposta, o melhor é não perguntar.

assinaturas

hoje e, ainda com um nome que não me pertence, assinei mais um papel. Não é um papel qualquer, é o papel que inicia um sonho antigo, um sonho que já foi semi-realizado, mas semi, não é o mesmo que Realizado.
Iniciei mais uma etapa, a que falta para a realização.

7.7.09

carta à fada dos dentes

Cara fada, espero que hoje apareças lá por casa e nem te atrevas a levar uma simples lembrancinha, é que esta coisa dos dentes que caem é uma intrujice ainda maior que a tua história. Não estava no programa ter de pagar por cada dente que "supostamente" devia cair. Lá em casa os dentes não caem, têm de ser arrancados. Sim, já é o segundo e, a brincadeira já vai em 100€. Por isso das duas uma, ou apareces mesmo e deixas alguma coisinha que se veja ou os dentes começam a cair sozinhos, que isto de pagar para o dente sair de lá e ter de pagar o "presente da fada" saí um bocadinho caro, ainda mais quando a criança se porta melhor do que muitos adultos.
Posto isto, fico a aguardar, enquanto isso, vou trocar os frutos vermelhos que o T. tanto gosta por maçãs, de preferência bem rijas.


a mãe da criança

reflexos

Olho para o espelho e lá estão, bem ali à minha frente, as rugas que vão aparecendo à volta dos olhos que vou insistindo em encharcar de cremes. Os cabelos brancos lá vão sendo disfarçados por entre as nuances.
Por baixo desta imagem que acusa os primeiros sinais de envelhecimento, está uma mulher, uma mãe de dois, que tantas vezes se sente como se tivesse dezassete, que joga à bola, que salta para evitar os últimos degraus e que trepa pela varanda da vizinha quando fecha a porta com a chave do lado de dentro.
Entre estas duas imagens existe um fosso, um fosso que separa o que sentimos com o que somos, ontem soube que estou mais velha. Quando dizem a uma mulher "se quer ter mais filhos é bom que seja em breve" custa. Custa muito. Eu sei para onde caminho, mas ainda assim, custa. É real.
Depois do A. nascer tinha decidido não ter mais filhos. Tenho dois. Cumpri a minha parte, posso fechar a loja. Foi mais ou menos isto que pensei. Depois nos tropeções e surpresas que a vida me proporciona, percebi que afinal a loja não estava assim tão fechada. Ontem, deram-me um prazo para fechar. A loja vai mesmo ser fechada à força e, isto está-me a custar mais do que eu previa. Obviamente que sei que um dia iria acontecer, mas não era assim, já...
Eu posso ou não querer ter mais filhos, não queria era que me fosse imposto. Não queria que me dissessem; está velha por dentro.

6.7.09

cumplicidades

É passarmos uma manhã-tarde de domingo numa esplanada, falarmos a mesma linguagem e conseguirmos ver o lado uma da outra.
É saberes que estou aqui.
É eu saber que estás aí.

4.7.09

vingança ou compensação






















depois de um dia mal aproveitado, aproveitar o jantar.

podia mas não foi

hoje podia ter sido o dia em que aproveitava e punha os sonos em dia ou, em que me deitava no sofá a olhar para o infinito e me deixava passar pelas brasas ou, em que tinha aproveitado para dormir na areia com o som do mar e dos restantes veraneantes ou, por outro lado, em que aproveitava para encaixotar o superfluo e deixava de olhar em redor a pensar no que me falta fazer ou, que despachava o trabalho que trouxe para casa e que me vão cobrar na próxima semana.
Podia, pois podia, mas não foi e, não me lembro de um sábado tão mal aproveitadinho.

3.7.09

tempo

É coisa que não tenho tido. Os dias passam a correr e as noites não chegam para por o sono em dia. Lembro-me da altura em que os dias passavam mais lentamente. Em que tinha tempo, das noites passadas com o pc à frente depois das crianças estarem deitadas. Das gargalhadas contidas de madrugada, de dormir três ou quatro horas e acordar e olhar os dias de frente e não olhar para eles quando já passaram sem perceber muito bem como. Não tenho tempo para ter tempo, preciso de abrandar, conseguir olhar para o que se passa à minha volta, conseguir estar parada com tempo sem olhar para o relógio. Preciso de tempo para não fazer nada.