Caixa dos fios

25.9.08

Tatuagens

Tenho um trevo igualzinho a este tatuado, não o fiz por pancada, teve um motivo muito pessoal, devido às perguntas criei-lhe um motivo "explicável", hoje esse motivo é do qual me lembro quando olho para as folhinhas verdes no meu tornozelo direito.
-Sorte! 
Não é um amuleto, é para me lembrar que tenho muita. Não sou daquelas pessoas, tipo Gastão, que encontram uma nota a cada esquina, a minha sorte nesse aspecto resume-se a arranjar bons lugares para o carro. 
Contam-se pelos dedos de uma mão o que tive de mão beijada pela vida. Mas ainda assim sei que sou abençoada por ela. A vida, essa que tantas vezes chamamos de madrasta (que acho mal, pois há madrastas e madrastas), nem sempre é tão má como a pintamos, muito pelo contrário. Com o passar dos anos fui percebendo que muita da nossa sorte somos nós que temos de a cultivar. Há muito que deixei de fazer dramas por mesquinhices. Não meço a minha sorte pela bitola do que os outros conseguem com mais ou menos esforço. Injustiças há muitas e vão existir sempre, não vale a pena desgastar-me com o que está fora do meu alcance. Também não sou conformista e se de facto quero algo, vou atrás, trabalho, luto, idealializo e sonho, traço objectivos e consigo. Sempre assim foi. Aprendi com todos os revezes que ficar sossegadinha a lamuriar-me não resolve nada, é desperdício de tempo e de energia. Hoje sou uma optimista, mesmo nas piores situações há um momento em que respiro fundo e vejo a situação por outro prisma e procuro incessantemente uma saída airosa ou ver o lado positivo da coisa. Uma amiga por quem tenho grande estima costuma-me dizer que a vida não nos dá nada que não possamos suportar. Não sei se será assim tão linear. Há casos e casos, há problemas e problemas.
O trevo tatuado lembra-me sempre que sou uma pessoa cheia de sorte. Tenho saúde, emprego e casa, dois filhos fantásticos e saudáveis, tenho a minha família e os meus amigos. 
Sim, encho a boca para dizer que tenho sorte. Os meus problemas não passam de ninharias. São merdinhas, contrariedades. Problemas, não!
Problemas tem um pai ou uma mãe que têm nos braços um filho com uma doença grave. Problemas tem um pai ou uma mãe que ficam sozinhos a criar um filho, ou ainda pior, que ficam sozinhos sem o filho. Problemas tem quem tem de viver da solidariedade alheia para pôr comida na mesa porque não pode trabalhar. Problemas tem quem vai ao médico e lhe dizem que tem os dias contados. Problemas tem quem tem de assistir ao sofrimento causado por uma efermidade a alguém que amam. 
Temos todos a mania de assobiar para o lado quando nos lembramos que somos mortais e muitas das vezes não damos o devido valor ao que temos ou ao que está ao nosso lado pronto para ser colhido, aqui, agora. 

Eu? Não tenho problemas, tenho é muita sorte e espero sinceramente que ela não me abandone, porque não há dia em que não lhe agradeça a sua presença na minha vida.