Todos os anos é a mesma conversa. Não sei quantos milhares de professores não têm colocação, fala-se muito no assunto quando saem as listas dos colocados. Os Ministros da Educação mudam mas o drama é o mesmo. Peças de telejornais sucedem-se durante dias a falar no tema, depois novos dramas retiram-lhe o protagonismo e é arrumado na prateleira do esquecimento geral. Eu, fico sempre a pensar no que será da vida destas pessoas durante o resto do ano lectivo até que o tema volte à baila. Como pagam a escola dos filhos, a renda de casa, as contas, a factura do supermercado durante o resto dos meses do ano?
Ainda temos muito caminho a percorrer no que toca à educação e, não menos em relação às pessoas que têm a educação dos nossos filhos, dos futuros adultos deste país nas mãos.
Conheço vários professores, conheço-lhes a vida de perto. Para mim, o drama das colocações e dos horários não está ligado a números, mas a caras e a vidas que de alguma forma estão ligadas à minha. Felizmente, este ano nenhuma delas ficou sem colocação, mas existem mais problemas para além das colocações, a forma como são feitas parece-me completamente irresponsável. Claro que nem todos os professores podem trabalhar à porta de casa, é necessário deslocalizar recursos. Mas, gaita, têm de informar as pessoas a um dia ou dois de se apresentarem ao serviço? Se a empresa onde eu trabalho me informasse hoje que para a semana eu tinha de ir viver para Beja ou para Vila Real eu fazia um escândalo. Não se brinca desta forma com a vida das pessoas nem com as vidas que estão agregadas a ela. Numa semana mudar a vida toda de cidade sem pré-aviso? Arranjar casa, escolas para os filhos quando as matrículas já acabaram à meses? Toda a organização familiar vai por água abaixo, todo o suporte que possa ter sido criado cai por terra. É de uma violência atroz o que se faz nesta matéria aos professores.
Também me parece inadmissível, que pessoas supostamente responsáveis pela distribuição de horários nas próprias escolas possam obrigar uma professora a ter um horário diurno e um nocturno quando trabalha a 90 km de casa, só para não ferir as susceptibilidades das que moram na zona. Pior é se pensarmos que esta professora gasta perto de 30 € se decidir levar carro nos dias em que dá as ditas aulas à noite. Tendo em conta a conjuntura actual do país e os ordenados dos professores 60€ por semana faz uma grande mossa no orçamento. Mas mossa faz também às crianças que estão em casa e que durante dois dias da semana não conseguem pôr a vista em cima da mãe. Mossa faz também numa mulher habituada a ser independente a ficar completamente nas mãos de outras pessoas porque precisa de ajuda para poder trabalhar.
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