Caixa dos fios

24.9.08

Homossexualidade

"- Mamã, está ali o A.
- Quem é o A.?
- O A. é o miúdo mais corajoso da escola.
- Ai é, que é que fez?
(confesso que imaginei-o com uma lagartixa na mão, ou a trepar ao telhado, ou mesmo a enfrentar um professor injusto...)
- o A. disse na frente da turma toda que gostava de ser menina.
(três glups em seco...)
- não achas que foi de muita coragem, mamã?
- claro que acho, mas como é que vocês reagiram?
- ninguém disse nada, que não havia nada para dizer.
- e não voltaram a abrir a boca?
- sim, já falámos nisso. Achamos todos que foi preciso coragem para dizer que queria ser menina e toda a gente o admira. É o mais corajoso da escola.

Pois é. Talvez estejamos a fazer alguma coisa certa. Talvez os nossos filhos, aqueles miúdos que não sabem brincar e só vêem televisão e querem é msn e sms e essas coisas todas horríveis que fazem e o que vai ser deles que no nosso tempo é que eramos educadinhos, esses mesmos, talvez eles estejam a crescer muito, mas muito, melhores que nós."


esta história já me tinha sido contada por quem a escreveu e, apesar de diferente lembra-me uma "conversa" que tive com a dona de uma loja onde costumava ir. Estava eu grávida do A. (que não é o mesmo do relato, mas até podia ser) e a "senhora" que até tinha a loja cheia resolveu perguntar-me alto e bom som se eu já sabia o sexo da criança.
- Sei, é outro rapaz! - respondi-lhe
- Ahhh, coitadinha, só vai ter noras! - retorquiu em volume igualmente alto e num tom como se eu fosse portadora de uma desgraça. 
Comentário infeliz ao qual prontamente respondi
- Ou genros! Nunca se sabe... já me consigo imaginar rainha no meio de tantos homens...
A "senhora" enfiou a viola no saco e a partir desse dia passou a olhar para mim com outros olhos e nunca mais me perguntou mais nada. Mas também não interessa, o que me interessava e continua a interessar é que os meus filhos sejam livres e corajosos o suficiente para perseguirem o que acharem melhor para eles e que nunca se sintam intimidados por pensamentos ou atitudes dos outros. 

" Mamã, o importante é ser feliz"

E para mim é só isso que conta. Se a felicidade de um ou de ambos os meus filhos passar por ser homossexual ou sapateiro, seja. Para se ser respeitado têm primeiro de se respeitarem a eles próprios e, que raio de respeito teriam se não luatem pelo que acreditam? 
Se estiverem bem, eu também estou. Infeliz ficava eu se soubesse que um filho meu andava a fazer mal a outras pessoas.