Caixa dos fios

14.9.08

"É sempre verde a última palavra a morrer"

Sabes, às vezes as palavras explodem-nos na boca para não acontecerem no coração as suas deflagrações.
São mecanismos de defesa, instintivos, anti-corpos que desenvolvemos no silêncio das palavras reprimidas e que as expulsam como granadas sem cavilha para evitarem a infecção que nos rebenta por dentro se a deixamos por combater.

Por isso cuspimos as palavras quando nos fazem doer no peito com os estilhaços das emoções que libertamos assim, pouco antes de implodirmos sob o peso dos desabafos adiados que nos ateiam o pavio.
Um rastilho muito curto, quando a corda da paciência estica demais.
E depois dão-se as explosões e as palavras são como dinamite nos alicerces corroídos por uma maleita qualquer como as que enfraquecem a madeira, enferrujam o metal ou destroem aos poucos ao mais belo e cuidado jardim.

Mas nem sempre a explosão das palavras representa um fim, mesmo perante as marcas visíveis dos danos colaterais que possamos provocar dessa forma. Mesmo quando conduzem ao encerrar de um ciclo que se calhar precisava apenas de um derradeiro abanão. Desespero de causa, às vezes, aquilo que mina o campo por onde preferíamos caminhar descalços e sem preocupações que não as de procurarmos a felicidade e se possível a partilharmos com pessoas queridas, pessoas de bem.

Muitas dessas pessoas podem surgir na nossa vida apenas no dia depois de amanhã, surgidas de surpresa por detrás do pó por assentar na sequência do rebentamento das palavras disparadas à queima-roupa, por simples reflexo condicionado do dedo que a vida nos obriga a engatilhar.
E na maioria das vezes nem precisamos de as procurar, autênticas brigadas de minas e armadilhas que o acaso nos estende ao caminho embrulhadas no seu papel por cumprir.

Prefiro acreditar-te a sorrir, já passadas as ondas de choque e toda a turbulência que as palavras explosivas provocam a quem as detonou.
Um dia, quando o tempo bastante decorrer, as palavras detonadas serão apenas um eco distante de uma trovoada que, como as outras, choveu e passou.

Amanhã o sol vai nascer e a vida irá acontecer mais esclarecida, mais avisada. E necessariamente melhor.


(Shark)