Caixa dos fios

19.8.10

felizes são os ignorantes



Não vejo notícias. Não leio jornais. Não quero saber. Juro que não quero saber. Irritam-me as imagens despudoradas que mostram e a leviandade com que o fazem. Eu não preciso de ver uma imagem chocante para ter a noção da brutalidade envolvida numa notícia. Não preciso. A minha imaginação consegue fazê-lo. Mesmo essa, a imagem emitida pelo meu cérebro fica ali a pairar como um pesadelo repetitivo. Odeio notícias cheias de corpos inanimados e estropiados. Execuções filmadas por câmaras amadoras. Crianças quase mortas de fome, de desidratação, de pestes nos braços de um dos pais. Torturas captadas por câmaras de vigilância. Não quero saber, não quero ver.
Em casa a televisão nunca está num canal com notícias. Tive inúmeras discussões com o pai dos meus filhos, que tão informado que gostava de estar, ligava a tv e zarpava para outro lado qualquer da casa deixando todo um chorrilho de desgraças entrar sala dentro, ali, à mercê de uma criança que cirandava e claro especava-se na frente do aparelho. Agora é proibido, a televisão não pode estar em canais com notícias a não ser que esteja alguém de facto a ver e com o comando na mão preparado para mudar de canal. Eu sei que não posso [e não devo] poupar os meus filhos a tudo, mas há coisas que eles dispensam e garanto que não é por não verem certas imagens que vão ser menos informados, menos conscientes.
Já para não falar que, na minha modesta opinião, este tipo de imagens são passadas tantas vezes e com uma naturalidade tal, que às tantas tem o efeito inverso, já ninguém quer saber, já é tão normal.
Eu prefiro continuar as usar os meus óculos cor de rosa para ver o mundo como gostaria que fosse e não saber, a ser perseguida por imagens chocantes e ter a certeza todos os dias da merda que existe no mundo.