Caixa dos fios

18.7.08

Dor

Ontem e hoje sofri, não dores minhas, mas dores de amigas.
Se a morte nos está destinada porque temos de sofrer quando ela acontece à nossa volta? Se é suposto acontecer um dia, porque é que quando esse dia chega somos invadidos por sentimentos de dor e saudade?
A dor da morte de alguém é uma dor egoísta, choramos por nós, choramos porque a partir daquele momento deixámos de ter aquela pessoa na nossa vida. É egoísta, mas não deixa de ser justa.
A morte de alguém à minha volta lembra-me que sou mortal. Lembra-me que, assim a vida decorra normalmente, um dia também alguém chorará a minha morte. Os meus filhos. Os meus netos. As minhas amigas. Os meus amigos.
Não penso muito na morte, mas a minha encaro-a com alguma normalidade. Talvez por isso lute tanto para estar com algumas pessoas que me são queridas. Talvez por isso, para mim, seja importante não esperar pelo amanhã para dizer algo que me apetece dizer agora. Não há momento mais certo para dizer o quão gostamos a alguém do que no momento em que o sentimos. Não há momento mais oportuno para estar com alguém do que o instante em que sentimos que devíamos lá estar.
Ontem sofri com a dor de uma amiga que perdeu um amigo.
Hoje sofro com a dor de uma amiga que perdeu a avó.
Sofri e sofro porque conheço a dor das duas. Também eu já perdi um amigo/irmão, também eu já perdi uma avó muito querida, aliás, a única que tive.
Lembro-me muitas vezes dos dois, lembro-me que na altura das suas mortes estávamos afastados.
Em vez de lhes entregar, desperdicei o que de mais precioso podemos dar a alguém, o nosso tempo, o nosso afecto.
Aprendi que devo semear para o futuro, mas sem nunca deixar de viver o presente.
E assim, por duas vezes a vida me ensinou que o amanhã pode não existir. E, assim, muitas e muitas vezes, através da partida de pessoas queridas a quem nos é querido, a vida lança o seu aviso: - "Não te esqueças do que te ensinei."

- Eu não me esqueço!