Caixa dos fios

15.10.10

e se de repente

encontrasse aquele que foi o meu melhor [e único] amigo na fase mais complicada da minha vida?

O acaso tem destas coisas e numa noite de serão a trabalhar, vou até ao bar comer uma sopa, chega logo a seguir o A.. - O A.! Tantos anos passaram desde a última vez que nos vimos, aqui, na mesma empresa, por mero acaso, porque trabalhávamos cá os dois, muitos anos depois da última vez que estivemos juntos.
E numa refeição rápida pesquisamos memórias que ficaram guardadas lá atrás da tralha que trazemos na arrecadação da mente. Os sonhos que tínhamos, a realidade que vivia, aparece tudo, até as voltas da vida. Uma viagem para trás no tempo. Eu estou igual e ele também, mas com barba. Somos os mesmos aos olhos um do outro que não conseguem ver o passar dos anos. O A. lembra-me do quanto eu gostava de escrever. Tantas cartas escritas às escondidas, enviadas para outra morada que não a minha. Évora! Lembro-me sempre do A. quando vou a Évora. Foi graças a ele e a uma fuga que conheci Évora. Foi em casa dele que me abriguei e, até hoje acho que ele não sabe o quão libertadores foram aqueles dois dias. Quase vinte anos depois voltamos a encontrar-nos. Há pessoas que vale a pena encontrar. Há pessoas que vale a pena encontrar e não voltar a perder. Não sei as voltas que a vida ainda dará, mas o A., por tudo quanto a nossa amizade significou para mim, vai ser sempre daquelas pessoas que longe ou perto estará guardado na minha caixa dos afectos e vou sentir sempre a perda se o contacto se cortar novamente. Eu não sei se ele sabe, mas a amizade dele foi, sem sombra de dúvida, das mais importantes que tive na minha vida.

Obrigada A.


[Como mãe, adorava que os meus filhos tivessem a capacidade de fazer bons amigos como eu.]