Há dias em que devia ficar na cama, abobrar todo o dia. Esquecer-me que existem pessoas lá fora e, que essas mesmas pessoas se esquecessem de mim dentro de casa. O telemóvel podia ter um fanico, a cabo deixar de funcionar, os carros lá fora não apitavam, nem se ouviam a rodar sobre o alcatrão. As portas do prédio não se abririam e até os pássaros se manteriam mudos e quedos. A vida lá fora parava e era apenas silêncio e cá dentro os ponteiros do relógio só mexeriam quando este estado de espírito passasse.
A verdade é estúpida. Não me aconteceu nada, nada que não aconteça todos os dias, mas nem as boas notícias do dia me animaram.
Foi um dia sem pachorra, sem forças, sem vontade. Está quase a acabar [felizmente] e amanhã é outro dia.
Há dias que deviam ser como os comboios, que apesar de termos chegado à estação a tempo, optamos por deixar partir, perdendo-os propositadamente, porque não vale a pena a viagem.
Hoje devia ter ficado a dormir à espera que o dia passasse até chegar a hora de apanhar outro.