Caixa dos fios

2.3.09

mudar [de vida]

As mudanças nem sempre são fáceis, nem sempre são por nossa vontade, nem tão pouco por vezes são o melhor, mas também há as que são por nossa vontade e que acreditamos que são o melhor. Fáceis? Acho que nunca são, algures existe sempre um travo amargo.
Mudamos de emprego porque acreditamos que é melhor, que vamos ganhar mais, que temos um horário melhor ou deixámos de aturar um chefe com o qual não nos queremos cruzar nem na fila do cinema. Mesmo quando corre como esperávamos há a adaptação, entramos num território que nos é desconhecido, uma imensidão [ou não] de caras novas, não sabemos com quem podemos [ou não] contar ou quem nos vai puxar o tapete na primeira oportunidade só porque entrámos agora e ganhamos mais 10€ no final do mês.
Mudamos de casa porque queremos uma casa melhor ou maior, porque precisamos de uma renda mais barata, porque fica mais perto do emprego ou da escola dos miúdos. E mudamos e a casa até é porreira e tem jardim ou é mais barata e já se respira com menor dificuldade, porque até podemos ir a pé para o trabalho e os miúdos até chegam mais cedo a casa. Depois de deixarmos de viver entre caixotes e móveis por montar e quando até estamos felizes pela escolha sente-se que a casa ainda tem um cheiro que conseguimos cheirar quando entramos e que nos lembra que é tudo novo. Os barulhos do prédio ou da rua, o cão da vizinha que uiva ou ladra incessantemente. O autocarro que tem um número diferente, a estação de metro que é outra, a mercearia da esquina não tem aquelas laranjas fantásticas com que fazíamos o sumo. Agora até temos o trabalho de enfiar o carro na garagem ou andar às voltas à procura de lugar. Há sempre um mas.
Mudamos de vida porque nos obrigam ou apenas porque acreditamos que podemos ter melhor. Matuta-se no assunto, numa primeira fase esporadicamente, normalmente as frases que nos assolam começam por "e se eu...", quando se muda para a fase seguinte, a coisa já não nos sai da cabeça, os pensamentos começam a criar cenários, saídas, ainda existem ses, mas já não são ses hipotéticos, são os ses da alternativa para resolução dos problemas. Muitas pessoas ficam aqui e não vão mais além, porque é nesta fase que se apercebem da provável dificuldade da mudança [ou do disparate que estavam a pensar fazer]. Na fase seguinte, para os que continuam, a coisa vai ficando cada vez mais apertada, as horas de sono diminuem em prol de voltas e voltas na cama enquanto a cabeça vai girando, por um lado em busca de uma saída pouco brusca e com controle de estragos, por outro com o medo do desconhecido, a insegurança do futuro. A partir desta fase não teço comentários, eu segui o caminho até ao fim, sei o que senti, sei o que ainda sinto por o ter feito, mas todos esses sentimentos são causa-efeito da forma como conduzi as coisas e o objectivo do post não é contar uma história. As pessoas são, naturalmente avessas à mudança. O medo do desconhecido, a perda de bens ou de simples rotinas que lhes davam segurança faz com que estaquem na beira do precipício com medo de dar o salto, até porque nunca se sabe se o que está do outro lado é melhor... mas e se fôr? Nunca saberemos, não é?
Sim, mudei a minha vida porque acreditei que era o melhor para mim, até agora não me enganei. Fácil? Não, não foi.
Sim, quero mudar de casa porque preciso de uma renda mais barata e a outra até fica mais perto do emprego e da escola dos miúdos, também é verdade que vou deixar de ter a fruta da mercearia da esquina à mão de semear e a casa nem é tão boa, mas vou respirar melhor. Fácil? Não, não será.
E não, não mudo de emprego porque acredito que neste momento não há melhor para mim do que o que tenho e ter um nos dias que correm já é uma benção. Fácil? Não, também não, tenho de me munir de muita paciência.
A verdade, é que acredito que mais difícil do que mudar alguma coisa é não mudar coisa nenhuma.