Caixa dos fios

21.11.08

A sinceridade da amizade

Um gajo acorda de manhã, está a chover, olha para o despertador e percebe que tem 10 minutos para chegar ao emprego onde vai ter uma reunião com um cliente importante. Só de trajecto são 30 minutos, demora dois minutos no banho, com a pressa dá uma joelhada na torneira da banheira, faz um lanho na cara a fazer a barba que tapa com um bocadinho de papel higiénico. Já no elevador a chegar ao rés do chão, descobre uma nódoa na gravata e que lhe falta um botão na manga da camisa. Sai para a rua e não se lembra onde deixou o carro, anda de um lado para o outro a tentar lembrar-se e a ver se o descobre, olha para trás e vê o carro estacionado mesmo à porta de casa, quando se dirige, finalmente para o carro tropeça e cai estatelado no meio de uma poça de água. Felizmente aparece um amigo, um amigo daqueles do peito, o gajo estatelado no meio da poça estende a mão para que o amigo o ajude a levantar. O amigo enfia-lhe um biqueiro num rim e diz-lhe: - Tu não te podes atirar assim para o chão, ainda te magoas.

A isto é o que muitas pessoas chamam de amizade sincera, vai de dizer tudo o que vem à cabeça tal qual os malucos. Não importa a forma o que importa é o conteúdo. Sim, escudados por essa bela palavra, a amizade, podemos espetar uma biqueirada bem assente no rim de um amigo só porque, assim como assim, o que interessa é passar a mensagem e, se não doer não se percebe.
Engano, dos mais elementares, a amizade não dá o direito de ferir os outros com sinceridades acutilantes, não vale a pena andarmos a pôr florzinhas onde só existem calhaus, nem oito nem oitenta, mas se há quem mereça respeito na forma como passamos a mensagem são os amigos. Eu não chego ao pé de quem gosto e digo: - Ò minha grande besta... Por isso também dispenço que me tratem como se fossem umas bestas insensíveis. Essas pessoas até podem ter outro nome, amigo, não.
E já agora, também dispenso o pontapé nos rins, se há sítio onde dói é aí e os meus são algo sensíveis.