Sou exigente, sou e admito-o. Sou-o comigo e com os outros a quem entrego o meu ouro. Costumo dizer ao T, durante as birras parvas dele que eu não mereço que ele esteja a fazer aquele pé de vento porque eu não mereço. Faço-lhe todas as vontades, negoceio com ele, explico-lhe tudo, se lhe digo que não é porque não pode mesmo ser e é injusto que ele arme um circo por algo que eu lhe disse que não. Sou exigente, o miúdo só tem seis anos e eu espero que ele no meio daquela massa cinzenta em que decora nomes de jogadores de futebol, tácticas de jogo, ditongos, palavras novas que assimila todos os dias e milhares de outras coisas que absorve que nem uma esponja seca, no meio de uma loja de brinquedos se lembre que eu lhe estou a dizer que não porque este mês já gastei mais do que devia e, ele tem de perceber. Sim sou exigente com ele. Mas sou-o comigo também. Perco-me em explicações, desdobro-me com correrias de um lado para o outro para conseguir satisfazer suas altezas reais no meio das minhas próprias necessidades e responsabilidades. Com as outras pessoas, com as que de facto me importo acontece o mesmo, sim sou exigente, não me digam que gostam de mim para depois ao primeiro aí que me saia me dizerem ahetalegostavadeteajudarmasnãoposso. Badamerda!!! Eu se gosto estou lá nem que tenha de virar o mundo ao contrário. Gritem lá um aí e vão ver se eu não estou plantada à porta. Não estou? Pois, se calhar já fui brindada também e houve uma descida de divisão. É assim... E desengane-se quem achar que o faço por vingança, faço-o mesmo porque se há coisa que não sou é parva (só quando me faço). Não posso estar sempre a dar qual vaca leiteira sempre pronta a ser espremida e receber palha seca em troca. O leite seca. Dou muito de mim, preocupo-me, estou lá antes do aí, estou lá até no falso alarme. Mas não me fodam.
Já estou habituada a ouvir os outros dizerem que tenho mau feitio, que é uma coisa que até me irrita um bocadinho, diga-se em abono da verdade. Isto não é mau feitio. Eu não tenho mau feitio, mau feitio não é ser honesta com os outros, gosto, gosto, não gosto, não gosto e digo-o e pronto. Lá de vez em quando alguém pisa o risco comigo e aí salta-me a tampa. Que nessa altura digam que tenho mau génio, vá... É verdade, admito-o, tenho mau génio, parto o que houver para partir, amuo, barafusto e tudo o mais que eu achar que tenho direito, porque naquele momento o que conta é o que eu acho, porque aquele momento é o momento em que eu rebento, em que extravaso tudo cá para fora, é o meu momento, é o meu grito de basta, só que é quando já não há volta a dar. Se rebento, se extravaso, foi porque andei a encher, a encher, até não caber mais partícula alguma de coisa nenhuma. Enchi, rebentei, acabou. E acaba mesmo, porque quando chega a este ponto, já nem remoer consigo, muito pouco ou nada há a fazer e, a mim resta-me arranjar mais um espacinho na gaveta dos casos arrumados.
Chamem-me radical, fria, mau génio, o que quiserem, mas lembrem-se que eu sou das que está lá quando os bonzinhos ou boazinhas assobiam para o lado. Mau feitio? Eu? Pffff... mau génio!
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