Entro na estação e observo as caras, as que chegam e as que estão de partida. Uns têm o mesmo destino que eu, alguns sairão algumas estações antes. Em comum além do possível destino, teremos o facto de sermos diferentes, de termos vidas diferentes e quiçá, vermos as paisagens da janela de modo diferente. Para uns a viagem será boa, para outros uma perda de tempo.
Entro no comboio, procuro o meu lugar, porque não gosto de fazer viagens num lugar que não o meu. Não me interessa se é à janela ou se é o do corredor, tem de ser o meu. Manias. Acomodo a bagagem e instalo-me.
Este comboio tem paragens em muitas estações, a viagem é longa e eu saio apenas na última.
As estações onde pára estão cheias de pessoas, umas entram no comboio, outras esperam quem sai e haverá certamente uns quantos que estão ali apenas a ver passar comboios. Durante a viagem percebem-se enganos. Dois ou três descobrem que apanharam o comboio errado, um ou dois sairam antes da estação pretendida e noutra carruagem haverá quem descubra que adormeceu e viajou mais para além do que pretendia. Os primeiros e o terceiro saem na estação seguinte em busca do comboio que os leve ao destino que querem, os segundos tentarão apanhar o mesmo comboio umas estações mais à frente, correndo sérios riscos de não conseguirem chegar a tempo ou do bilhete já não ser válido.
Aqui passamos a ter todos algo mais em comum, todos procuramos chegar ao destino certo.
Gosto de comboios e dos seus passageiros, são um tudo ou nada parecidos com a vida.
Uns apanharão o mesmo comboio que nós, sairão e entrarão na nossa vida em qualquer altura da nossa viagem. Uns perderão oportunidade de seguir viagem connosco por opção ou por distração, uns arrependem-se, outros não. Haverá ainda outros, independentemente da altura em que entraram, que seguirão até à última estação desta viagem.