"Algum tempo antes de eu mesma sonhar que me iria separar, numa conversa sobre divórcios e poder paternal defendi afincadamente a minha posição.
Não acredito em paternidade quinzenal. Em casos normais pais e mães têm direitos e deveres iguais com e para com os seus filhos.
Lembro-me que na altura me tentaram fazer crer que eu estava a sonhar. Que a realidade não é assim. Que com os problemas do divórcio é difícil gerir sentimentos e as pessoas usam o que têm à mão e teceram-me mais um infindável rol de comportamentos que a meu ver não dignificam ninguém. Mas eu sou uma rapariguinha de ideias fixas e mantive a minha, meses depois, sou colocada, ou melhor, coloquei-me numa situação de separação pré-divórcio, lembro-me que desde o primeiro minuto, não me passou outra coisa pela cabeça que não o exercício do poder paternal conjunto. Não porque tivesse de mater uma posição defendida anteriormente, mas porque de facto é o que sinto. Os meus filhos precisam de ambos, não precisam de um vinte e tal dias por mês e o outro fica com os ossos. Não! Eu sou mãe, ele é pai, ambos precisamos dos nossos filhos e ambos os nossos filhos precisam dos dois. Com organização, respeito por todos e cedências de parte a parte, ganhamos todos.
As razões da separação não têm de afectar os nossos filhos. Podemos até não falar de mais nada, mas quando falamos sobre eles, não fazemos fretes, não o fazemos contrariados. Fazemos como sempre fizemos até ao dia D. Até este dia eu fui a mãe que ele escolheu para os filhos e ele foi o pai que eu escolhi. O casamento acaba, os filhos não!
Não concebo sequer a hipótese de utilizar um tom de voz mais agressivo. Porque o faria, se estou a falar dos meus filhos com alguém que lhes quer tanto bem como eu?
Nós não temos a rigidez dos dias fixos nem dos horários. Conversamos. Em vez das frases começarem por "No meu fim de semana..." começam geralmente por " Estava a pensar neste fim de semana..." E eu cedo, ele cede, ganhamos todos. Não há discussões, nem cobranças.
Provei a mim mesma que tinha razão, especialmente numa coisa, quando queremos muito que as coisas corram bem e as soubermos levar com diplomacia e paciência, a coisa vai. Também sei, obviamente, que toda esta teoria que apenas com intuição consegui colocar em prática, só é exequível se ambos forem pessoas bem formadas e pensarem ambos no bem de todos e não apenas no seu, que se não for partilhado é apenas um falso bem estar."
in fiossoltos 24 de Julho de 2008
Este post foi escrito à menos de um ano.
Na altura era o que sentia, aliás ainda sinto. Lamentavelmente a última frase é a mais verdadeira delas todas. O recalcamento o ressabianço provocado por uma separação que só um deseja faz com que tudo o que seja racional e lógico vá pelo ralo.
"Se queres conhecer verdadeiramente alguém, divorcia-te..." Infelizmente é tão verdade. Em prol de um orgulho ferido, da visão da mudança de vida que não se desejou, consegue-se mostrar o pior de cada um. Quando escrevi o post achei que o outro lado se portaria à altura e que o respeito por todos os envolvidos falaria mais alto. Não me podia ter enganado mais. Tudo serve de arma para ferir. Inocentes são metidos ao barulho, a descida do nível é vertiginosa, é a guerra do vale tudo.
Da minha parte e, apesar de tudo, mantenho a minha firmeza e convicção. Há armas que não se usam porque não são armas, quanto muito são bombas que ao serem manipuladas irão, com toda a certeza rebentar-nos na cara quando menos esperarmos. Ninguém é feliz à custa da infelicidade de outro. Vinganças? Sim são boas e servem-se frias, mas é a própria vida que se encarrega de vingar os prejudicados. Eu? Não mexo um dedo, "a vida resolve-se sozinha", mas até lá é comigo que tenho de viver e Deus me livre de olhar para o espelho e ter vergonha da imagem à minha frente.
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