Caixa dos fios

9.11.10

os anjinhos no nosso reino

O meu reino tem uma rainha [moi même!], um rei, dois príncipes e duas princesas e quando entramos em Novembro um dos nossos castelos [temos dois] enchem-se de anjinhos de cartão. Ando às voltas com mails e anjinhos e anjinhos e mails. Mas desengane-se quem pensar que cá em casa nos limitamos a distribuir anjinhos pelas almas caridosas que os acolhem, nós também o fazemos. Este ano cá em casa adoptamos 8 anjinhos, aliás 7 e meio já que um pede um CD que eu consigo arranjar à borlix, por isso para essa anjinha, que vai ter o presente que pede só vou comprar o fato de treino. E desenganem-se, também, aqueles que acham "eh pá 8 anjinhos, devem ser ricos..." nada disso. Cá em casa cada criança tem direito apenas a um presente oferecido por nós, já que, felizmente, recebem presentes de outras pessoas, assim, em vez de entupirmos os miúdos com presentes a que não vão ligar no meio de tantos, oferecemos a quem mais deles precisa. Os mais velhos, os que já sabem que o senhor das barbas pertence apenas ao mundo da fantasia têm consciência que esta é também uma forma de partilha e aceitam-na muito bem.
O T., o maior entusiasta da acção dos anjinhos, anda a pairar à minha volta enquanto respondo a emails, procura os números dos anjinhos na lista onde coloco os dados da pessoa a quem entreguei o anjinho, lê os nomes dos meninos e meninas, os presentes que pedem, a idade.
Quando o T. tinha 5 anos eu fiquei apenas com um anjinho em vez dos dois ou três habituais e, fiquei só com um porque quis ficar com um em particular, o anjinho tinha 3 anos e queria uma bicicleta. Quando recebi os anjinhos para distribuir, achei difícil entregá-lo, afinal uma bicicleta é uma bicicleta e, perdoem-me os que fazem parte da excepção, mas muitas das pessoas que me pedem anjinhos não estão dispostas a tanto. Fiquei com o anjinho de 3 anos que queria a bicicleta. Quando o T. entrou no carro viu os anjinhos e perguntou-me com quantos anjinhos eu tinha ficado, expliquei-lhe que tinha ficado apenas com um porque pedia uma bicicleta. O T. ficou em silêncio, uns metros à frente perguntou-me se podia oferecer a bicicleta dele, que estava nova, só tinha ido à rua duas vezes e, assim eu podia ficar com mais anjinhos. Assim foi. O anjinho teve a bicicleta dele, oferecemos presentes a mais duas crianças, o T. sentiu-se feliz por ter oferecido a bicicleta dele e eu, confesso, que até hoje me babo com a história. Este ano e, como o T. recebe semanada, que anda a juntar religiosamente, perguntou-me se podia ficar com um anjinho para ser ele a oferecer o presente, como é óbvio acedi, o fato de treino fica por minha conta, senão o miúdo fica sem poupanças.
Sou humana, sou mãe e orgulho-me muito desta vontade de ajudar o próximo que o T. tem incutida nele, sei que muito vem da humanidade que é dele, mas também sei que ver-me ano após ano a distribuir anjinhos, a comprar presentes para os meus e para os dos outros [sim, já consegui distribuir muitos desde que fosse eu a tratar de tudo] o ajudaram a cimentar esta "tradição" que existe no reino em meados de Novembro.
Que o T. nunca perca este gosto por ajudar quem mais precisa, porque infelizmente haverá sempre quem precise.