Nunca desejei ser chefe de ninguém. Até há uns meses atrás tinha uma vidinha santa. Não havia mais ninguém com a minha função, por isso não havia competições nem comparações. A relação com o meu chefe é muito boa e abaixo de mim não havia ninguém. Fazia o meu trabalho e quando saía do emprego apenas tinha de me preocupar com o que eu fizera ou não. Depois baralharam-me o esquema e atribuiram-me a categoria de chefe. Chefio uma equipa de oito pessoas, assim, de um dia para o outro, quando saio do emprego, além do meu trabalho ainda tenho de me preocupar com o trabalho de oito pessoas, com o que fazem ou deixam por fazer, com a qualidade do próprio trabalho, com a competência de cada uma para a execução de tarefa A ou B, tenho de me preocupar com as faltas, os atrasos, a redistribuição do trabalho, policiar se está feito ou não. Não é fácil. Facilita em muito eu ter tido as mesmas tarefas que aquelas que chefio durante anos, dificilmente me atiram areia para os olhos. Mas os tempos são outros, o grau de exigência que tiveram comigo e que profissionalmente me fez crescer é completamente diferente do grau de exigência adoptado de há uns anos para cá. Essa mudança de atitude fez com que se criassem vícios e que algumas pessoas cultivassem uma falta de brio profissional que é essencial para prestar um bom serviço. O vento mudou de direcção novamente com as alterações que implementei, nada de mais, é muito fácil criticar outros e quando chega a nossa vez cometermos os mesmos erros. É contra essa escorregadela que travo lutas comigo mesma.
Já tive de tomar posições muito pouco politicamente correctas, mas não me podem pedir responsabilidades por ter de tomar decisões [ou pior, não tomar decisões] apenas porque alguém acima não vai gostar do que tenho para dizer, por isso digo-o, emito as minhas opiniões devidamente fundamentadas e mais cedo ou mais tarde por um assunto ou outro oiço "tinhas razão".
Até agora, com mais ou menos dores de cabeça tenho levado a água ao meu moinho, sentem-se sinais de mudança na atitude de algumas pessoas, o ambiente está mais respirável e tenho conseguido ser justa para com as pessoas, algo que considero fundamental.
Mas, infelizmente, nem tudo são rosas, e ter de cortar as pernas a alguém que tem demonstrado um empenho de louvar, custa-me, custa-me muito. Por muito válidas que sejam as razões que me obrigam a ter tal atitude, entram em conflito com o meu sentido de justiça e nestes dias, posso não me sentir a pior pessoa do mundo, mas não faz, sequer, com que sinta que estou a fazer um bom trabalho. Tenho muita pena.
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