7.7.09

reflexos

Olho para o espelho e lá estão, bem ali à minha frente, as rugas que vão aparecendo à volta dos olhos que vou insistindo em encharcar de cremes. Os cabelos brancos lá vão sendo disfarçados por entre as nuances.
Por baixo desta imagem que acusa os primeiros sinais de envelhecimento, está uma mulher, uma mãe de dois, que tantas vezes se sente como se tivesse dezassete, que joga à bola, que salta para evitar os últimos degraus e que trepa pela varanda da vizinha quando fecha a porta com a chave do lado de dentro.
Entre estas duas imagens existe um fosso, um fosso que separa o que sentimos com o que somos, ontem soube que estou mais velha. Quando dizem a uma mulher "se quer ter mais filhos é bom que seja em breve" custa. Custa muito. Eu sei para onde caminho, mas ainda assim, custa. É real.
Depois do A. nascer tinha decidido não ter mais filhos. Tenho dois. Cumpri a minha parte, posso fechar a loja. Foi mais ou menos isto que pensei. Depois nos tropeções e surpresas que a vida me proporciona, percebi que afinal a loja não estava assim tão fechada. Ontem, deram-me um prazo para fechar. A loja vai mesmo ser fechada à força e, isto está-me a custar mais do que eu previa. Obviamente que sei que um dia iria acontecer, mas não era assim, já...
Eu posso ou não querer ter mais filhos, não queria era que me fosse imposto. Não queria que me dissessem; está velha por dentro.