Eu tenho um problema com o passar dos dias, o que me leva a crer que noutra vida devo ter morrido prematuramente, sinceramente, não encontro outra justificação.
Sempre que me saí uma barbaridade boca fora do tipo, "nunca mais é nãoseiquando" tenho logo de seguida uma súbita vontade de me esbofetear. A sério!
A vida é demasiado curta, cada dia que vivo é menos um dia que vou viver, cada dia que desejo que passe a correr para que um outro lhe suceda, é menos um dia vivido. Viver a pensar que amanhã estou cá é demasiado optimista, a verdade é que não sei se estarei. E, não, não é um pensamento mórbido, é realista. Acho lamentável que seja necessário sermos postos à prova com uma doença que nos dá um prazo de término para deitar-mos às urtigas merdinhas e coisinhas sem importância e dedicarmo-nos realmente ao que queremos e a quem gostamos. Não tive nenhuma experiência quase-morte, mas há momentos em que sinto que é como se tivesse tido. Não me angustia, apenas me faz lamentar não ter ainda mais esta noção. Existem muitas coisas com as quais já não me stresso, mas muitas mais existem que gostaria de tirar da cabeça e ganhar espaço e tempo para as que são realmente importantes.
Sempre que estão comigo, não há dia em que não diga aos meus filhos o quanto os amo, o quanto são importantes para mim. A ideia de que um dia posso já cá não estar e não lhes ter dito com todo o meu sentir, essa sim, angustia-me.
É importante dizer o quanto gostamos de alguém enquanto conseguimos dizê-lo e enquanto nos conseguem ouvir. É importante relativizar as coisas e as pessoas. Dar importância a quem realmente a tem não é fácil. Deixar de lado quem tem lugar de destaque na nossa vida é um erro crasso e comum. Por lá estar, por ser importante é ainda mais urgente dizê-lo, mostrá-lo. No fundo, viver.
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