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dezembro
(65)
22.12.08
Se fosse tudo tão fácil como arrumar um armário
Abro as portas do armário. Irrita-me ter três peças de roupa estragada pelos fechos, uma por cada porta. Vou buscar uma chave de fendas e tiro parafuso por parafuso para, por fim, tirar os fechos que tantas mossas têm causado. Na última leva de estragos, foram umas calças [novas], uma camisa e um casaco de fato, chateava-me menos quando eram os botões das camisas e dos casacos de com quem já tive de partilhar um armário de três portas em que só uma era minha. Ver a minha roupa estragada irrita-me. Fechos tirados, acabou-se, agora o armário não fecha [e como me faz impressão portas e gavetas semi-abertas]. Olho para o interior do armário, a minha roupa pendurada [apenas a minha], consigo ver-me tirar tudo lá de dentro, consigo ver a roupa nos cabides pousada em cima da cama, as malas tiradas da prateleira de cima, os pijamas das gavetas, a roupa do ginásio que já não uso faz mais de um ano, a gaveta dos bikinis despejada também na cama. Depois, vejo-me a pegar em cada uma das peças, com olhar crítico e decidido coloco no armário o que serve, o que serve e ainda gosto, num outro monte, em cima da cama, a roupa que irá sair da minha vida e o monte com as três peças estragadas pelos fechos. No final em cima da cama só tenho estes dois. O que sai da minha vida porque já não me serve e não gosto e o que está estragado. Dentro do armário, cuidadosamente arrumado, tal como na minha vida, só lá está o que me serve e o que gosto. Fecho as portas do armário que já não me estragarão mais peça de roupa nenhuma, ficam mal fechadas, mas não estragam nada e viro costas satisfeita, apesar de não ter tirado a roupa toda, de não ter feito os dois montes, o que já não serve e o que está estragado, mas viro as costas sabendo que não foi hoje, porque estou demasiado cansada para labutas domésticas, será um dia destes, antes do novo ano, no meu armário e na minha vida.