Foto: Olhares
Uma semana, tal como previa, com um volume exagerado de trabalho, solicitações que não acabam [nunca ouvi tantas vezes o meu nome], bugs para reportar, erros humanos para corrigir, reuniões atrás de reuniões, decisões para tomar, um sem fim de... tudo. Só os dias continuam a ter 24 horas. Sexta-feira, após uma semana de loucos, chego a casa de madrugada, sábado, dia de acordar cedo e nova tirada até de madrugada. Domingo [estou repetitiva, eu sei] levantar cedo e trabalhar até às 5 da tarde, nem parei para almoçar, queria mesmo era vir-me embora. Há muitas noites que não dormia tantas horas seguidas, estava tão cansada que nem me devo ter mexido durante a noite a ver pelas dores que tinha no braço sobre o que supostamente dormi. Mas se há 10 anos atrás tinha a "pica" toda para estas coisas, 10 anos volvidos e a coisa pia de outra forma. Já não tenho a paciência que tinha, a minha cabeça também já não tem neurónios para tudo [eu bem digo que morreram muitos nos partos, mas ninguém acredita] e cada vez que passo no corredor oiço pelo menos 3 vozes diferentes a chamar pelo meu nome e a minha vontade é fugir, mas não sem antes atirar o pc pela janela.Quero que esta fase acabe, quero [preciso, desesperadamente] de entrar em velocidade cruzeiro, voltar a ter o trabalho sob controlo, o meu e o dos outros. Estou cansada, exausta, mesmo, preciso de ver luz ao fundo do túnel.
Eu sei que há dois anos quando me atiraram para o projecto fiquei muito entusiasmada. Tinha acabado de chegar de férias quando me disseram que tinha sido escolhida para o desenvolvimento deste monstro que agora me atormenta. De 20 e tal pessoas escolheram-me a mim. Tinha provas dadas, conhecia o sistema melhor do que ninguém, gosto de "fuçar" até encontrar o que faz falta, a funcionalidade que permite optimizar ou maximizar uma tarefa. Gosto de conhecer e melhorar processos de trabalho e atirei-me com tudo o que sabia e estava disposta a aprender. Tive altos e baixos, muitas reuniões, expliquei um sem número de vezes a mesma coisa em duas línguas e de formas diferentes, revi muitos documentos, "levei" com muitos powerpoints e pontos de situação [perde-se muito tempo em reuniões], discussões acesas, tive muitas vezes vontade de desistir, fiz muitos testes, repeti o mesmo teste vezes sem conta para obter o mesmo resultado. É o que acontece com quem tapa a cabeça e destapa os pés e vice-versa, uma, outra e outra vez. Perdi a paciência muitas, muitas vezes. Barafustei muito.
Dois anos passaram e chegou a hora da verdade. Sei que fiz o meu melhor, ainda não acabou, chegaram os dias do pesadelo, os dias sem horas para acabar, as noites em casa com a cabeça a borbulhar, efeitos de demasiada cafeína e de cabeça demasiado cansada para ordenar ideias. Mas repito para mim mesma, fiz um grande trabalho e, hoje, quando olham para o monitor e tentam fazer alguma coisa que até agora não era possível, podem não saber, mas eu sei, fui eu que levantei a lebre, fui eu que disse que precisava disto ou daquilo, mas nada é fácil e a na maioria das coisas tive de "desenhar" o caminho para lá chegar. Quando olham para o monitor, podem não saber, podem não conseguir imaginar todo o trabalho que esteve por trás, mas eu sei, fui eu, foi da minha cabeça que saiu e foi um grande trabalho. E, claro que se não fosse eu podia ter sido outro qualquer [ou não], mas fui eu que lá estive e foram os meu neurónios sobreviventes que se espremeram.
[Agora só falta entrar em Go-live, abençoado!]