De repente tanta coisa com sentido deixa de o fazer. Anos de luta, de afirmação, de construção, que afinal são frágeis como papel. Rasga-se a paciência, esquece-se a dedicação. De repente a vontade de abrir gavetas e rasgar papel. As construções humanas são frágeis, as construções das relações humanas mais frágeis são. Confesso, que apesar de não me surpreender, não entendo. Como conseguem as pessoas tornarem-se em seres tão despreziveis. Quantas pessoas conhecerei eu, que por detrás do ar cândido com que as reconheço, por trás englobarão este mesmo naipe de seres? Muitas, presumo eu. Eu, logo eu, uma eterna crente no bom fundo das pessoas, nas pessoas com coração, em reflexos de corpo inteiro e não apenas em reflexos do seu próprio úmbigo. Há pessoas que têm fins tristes, muito tristes, conhecemos-lhes o fim e temos pena, roemo-nos de comiseração, ignorantes, esquecemo-nos da justiça, divina, ou seja qual fôr. Tudo se paga e, o preço das acções contra os outros pagam-se caras, não na hora devida, mais tarde, bem mais tarde quando os juros são mais altos, acumulados durante anos de umbiguismos, anos de eu, mais eu e eu primeiro. Acabam mal, aos olhos de piedade de quem lhes conhece o fim, aos olhos de justiça de quem lhes sentiu as acções, as palavras execráveis.
Um dia alguém grita: - Chega! Basta! - e vira costas, porque qualquer coisa é melhor e, finalmente, por fim, respira-se.
E um dia, pagam tudo, com os juros devidos e todo o império de prepotência, de poder, de trunfo na manga, já não lhes serve para nada.
Mais cedo ou mais tarde somos todos frágeis.
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