1.8.09

pastéis de Belém

Hoje o meu dia começou cedo, às 8h30 já estava a fazer um electrocardiograma e menos de 5 minutos depois tiraram-me sangue. Uma manhã de sábado nublado em Agosto é um bom dia para fazer um check up. Depois dos exames todos feitos foi a vez da consulta médica. O médico podia ser meu avó, tem 82 anos, uma simpatia e boa disposição contagiante, anos de aprendizagem que vão muito para além dos conhecimentos médicos, uma aprendizagem de vida invejável. Rapidamente concluí que é daquelas pessoas que consegue "ler" quem lhe aparece à frente. A mim, pelo menos, pela conversa, "leu-me". Enquanto debitava perguntas do questionário médico foi-me dizendo que eu não parecia ter a idade que tenho, "porque as patadas da vida, o ritmo com que vivemos os nossos dias, os desgostos e as preocupações adoecem as pessoas. As pessoas vivem tristes e deprimidas. A menina não tem 35 anos!"
Gostei de o ouvir dizer aquelas palavras, gostei quando me disse "continue assim. Faça a viagem da vida com alegria e optimismo na bagagem, deixe um espaço grande para o amor. É importante amarmos quem nos rodeia. Na sua mala nunca deve haver espaço para ódios e, não se esqueça nunca de mostrar aos seus filhos como devem fazer a mala deles. Ainda um último conselho, compre uma mala com rodinhas por causa das costas."
Em resposta armei-me em engraçadinha e questionei: "- Mas essa bagagem não é leve?" Ao que, prontamente, com o seu ar de avô me respondeu: "- A bagagem não é pesada, mas as lembranças com que vamos carregando a mala são, porque se não as guardar não lhe servem de nada."
Saí do consultório com uma despedida calorosa e percebi que este Senhor me marcou. Ele próprio é uma lembrança que coloquei dentro da minha mala. A partir de hoje sempre que comer um pastel de Belém vou-me lembrar do médico-sábio de 82 anos, diabético, que enquanto miúdo gastava a mesada em pastéis. Vou-me lembrar que o médico-sábio, que um dia me "leu" só come pastéis de Belém em ocasiões especiais e, por isso, sempre que eu comer mais um pastel, para mim será um momento especial porque me vou lembrar das palavras do médico-sábio, na Lisboa nublada numa manhã de sábado de Agosto.