Hoje é a última noite nesta casa. Talvez por isso adio a hora de me deitar. Vou descobrindo mais coisas para empacotar e, assim, vou adiando aquele que será o meu último sono dentro destas paredes. A casa não me deixa saudades, desde que para cá vim morar que havia qualquer coisa que não me fazia sentir em casa. Até hoje não percebi o quê. Mas sei que vou ter saudades da varanda, tão aprazivel em noites como a de hoje. Vou ter saudades da varanda dos brinquedos, que permitia que o quarto dos miúdos estivesse sempre arrumado. Vou ter saudades da sala que tantas pessoas queridas albergou em jantares e almoços. Vou ter saudades da cabine de duche, de que tanto me orgulho. Vou ter saudades da cozinha, estudada até ao último detalhe, onde todos insistiam fazer sala. Vou ter saudades de algumas coisas, da casa, por si só, não.
A minha próxima noite em casa será na minha verdadeira casa. Uma casa só minha, apenas em meu nome, sem mais ninguém e sem senhorios. Mais um passo. Mais uma meta que cruzo. Lutei, trabalhei e consegui. A minha única dívida será para com o banco e mais ninguém. Minha!
Esta nova casa, não será apenas uma casa, será um lar, para mim e para os meus filhos. Faço questão de a transformar com todas as ideias que me borbulham na cabeça para que nunca, ao cruzar a porta da entrada sinta que não estou em casa, verdadeiramente.
E irei enchê-la de amigos, como sempre, porque a minha casa é o meu refúgio e os meus amigos têm sempre a porta aberta.
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