2.6.09

Prioridades

Os meus filhos fizeram-me mudar de vida. Desde que o mais velho nasceu que andou sempre atrás de mim. A vida de solteira ou casada sem filhos acabou no dia em que ele nasceu. Raras foram as vezes [três ou quatro no máximo ] que o deixei com alguém até ao irmão nascer. Estive anos sem ir ao cinema e limitei os meus passos a sítios e eventos onde ele pudesse ir comigo. Com o nascimento do mais novo o cenário não se alterou muito. Enquanto vivi com o pai deles, obviamente que por vezes saía e eles ficavam com o pai, estupidamente sempre me senti culpada por isso. Eu ia, mas andava sempre em stress para me despachar para voltar. Agora a coisa mudou de figura, eles, cada vez mais andam comigo para todo o lado, já não me custa [tanto] deixá-los em casa de amigos [obrigada Paulo e Ana] onde sei que ficam bem e onde gostam de ficar. Aproveito os fins de semana em que estão com o pai para ter tempo para mim e para as minhas coisas sem crianças a reboque. Mesmo assim, garanto, não é fácil. Não me estou a queixar. Eu tenho todo o gosto em ser uma mãe presente. Há uns anos atrás, devia o T. ter um ano e tal ou dois, enquanto eu acabava de me arranjar para ir trabalhar, o T. resolveu bater com a cabeça num móvel qualquer. Eu já estava atrasada e na altura o trajecto casa-infantário-emprego demorava cerca de uma hora. Lembro-me de no meio do choro do meu filho me ter passado um dos pensamentos mais egoístas "porra, logo hoje que estou atrasada!"Foram uns frames de pensamento, mas o suficiente para ter vontade de me esbofetear de seguida. Era o meu filho! Não era uma pessoa qualquer, era o meu filho, um bebé ainda, tinha-se magoado e eu, ainda que por breves instantes estava mais preocupada com o meu atraso. Naquele momento percebi o tipo de mãe que queria ser e não era de todo parecida com a que se mostrou. Senti-me envergonhada comigo mesma. Peguei no T. sentei-me no sofá com ele ao colo e ficámos ali os dois no mimo por 15 minutos, até ele se recompor e até que eu me recompusesse da asneirada que tinha cometido.
A partir desse dia mentalizei-me que os meus filhos estão primeiro do que qualquer coisa. Não há emprego nem compromisso que valha mais do que os meus filhos quando precisam de mim. Falto as vezes que tiver de faltar para lhes dar mimo porque quando estão doentes é a mãe que querem. Saio mais cedo para ir a reuniões na escola as vezes que forem precisas. Sou eu que os levo ao médico e não passo essa função a ninguém. Chego atrasada se for preciso para estar 2 horas à porta da escola a aturar uma birra de queroircontigoparaoemprego.
Da minha infância não me lembro da minha mãe ficar comigo em casa, a minha avó estava lá, lembro-me de ir ao médico com a minha avó, lembro-me que quando era a minha mãe a ir-me buscar à escola eu era a última a sair. Tenho muitas memórias de infância com a minha mãe, mas tenho muitas mais de uma série de pessoas da família e sem ser da família. Infelizmente, tenho mais memórias da D. Fernanda, mãe de 5 filhos que me aturava todos os dias quando eu ia lá para casa brincar e me levava ao parque com os mais novos da sua prole. Não são estas as memórias que quero que os meus filhos cultivem. Por enquanto há uma que não consigo alterar, eles vão-se lembrar que são os últimos a sair da escola, mas as outras não. Os meus filhos vão-se lembrar que era eu que lhes tirava a febre, limpava o vomitado, dava o xarope e o mimo porque eu própria não consigo estar bem quando eles não estão. As minhas prioridades são eles, os meus filhos.