é assim que vão ser os meus próximos tempos. Encaixotar o que é para manter, desfazer-me do que não pertence à vida que quero recomeçar. Os recomeços e as mudanças são boas para fazer limpezas, limpam-se os armários, as gavetas, as caixas de toda a tralha acumulada, uma parte seguirá caminho comigo, outra ficará para trás e seguirá um outro diferente. Novos armários e gavetas sem fantasmas irão albergar as coisas que me são mais queridas e necessárias. Tudo limpo e arrumado nos seus respectivos lugares como devia ser tudo na vida. Quem me dera que fosse tão fácil arrumar a vida como uma casa nova. Criar uma nova vida como se consegue criar um lar. Não é assim tão fácil, mas os recomeços têm o seu quê, por um lado o desapego que é necessário ter relativamente ao supérfluo, por outro o alento de novos sons, outra luz a entrar pela janela, outros recantos que se criam, no fundo, a esperança de melhores dias que certamente aí vêem.
E eu, ao fim de tantos recomeços, vou enfrentar mais um, sozinha e com bagagem bem mais pesada, bem mais preciosa do que uma mala de mão. Agora, ao fim de quase um ano, sinto o peso da responsabilidade. Já não sou só eu, sou eu e os meus filhos, num recomeço a sós. Por isso preciso de encontrar uma casa em que o sol que entra pelas janelas encha bem a casa de luz. Porque eu preciso que o sol me encha a nova casa de luz.
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