Caixa dos fios

8.4.10

que se parta a loiça toda

A sério que acho giro aquelas pessoas que têm serviços vista alegre e copos de cristal e faqueiros em prata e toalhas bordadas com guardanapos a fazerem pandan, tudo encafoadinho no louceiro à espera "daquele" jantar ou almoço que justifique ter a trabalheira de tirar de lá tudo e pôr a mesa a preceito com a jarra de flores, também de cristal com um lindo ramo no centro da mesa. São rituais que se herdaram de outros tempos, de outras mentalidade, de uma outra sociedade em que nada era descartável e em que o enxoval acumulado antes do casamento iria durar o resto da vida [assim como o próprio do casamento]. E não, não tenho nada contra o ter serviços da Vista alegre, ou copos de cristal ou faqueiros de prata e muito menos toalhas bordadas com guardanapos a fazerem pandan, o que eu acho mesmo mal é a parte do encafoadinho no louceiro [já para não falar na parte do louceiro, mas isso são gostos e não se discutem]. Lá em casa os pratos são Ikea, servem todos os dias quer haja visitas ou não. Os copos de vinho são da Marinha Grande [do tempo em que os copos do Depósito da Marinha Grande eram ainda mais caros do que são agora] e servem quer seja dia de festa quer me apeteça beber um copo de vinho sozinha. Lá em casa come-se com talheres de peixe quer haja convidados ou não. Já os talheres de prata, isso não entra lá em casa, porque na minha mesa ou na minha cozinha só entram coisas que possam ser lavadas na máquina, que é para isso que ela serve, já me basta a saladeira que achei tão gira tão gira, que comprei e depois descobri que não só não pode ir à máquina como não pode conter alimentos quentes, saladas só frias, portanto. As toalhas bordadas, lamentavelmente ficaram pelo caminho num azar há uns anos atrás, mas felizmente ainda sobreviveu uma cuidadosamente bordada pela minha avó, os guardanapos é que não sei o que lhe fizeram, mas para todos os efeitos é tão usada como qualquer uma das outras sem bordados.
E sim, o que acho mesmo giro é guardarem-se coisas "especiais" para "momentos especiais" [não se vá partir o cristal ou entornar qualquer coisa em cima da toalha] quando o mais importante é tornar especial o que existe à nossa volta e usufruir porque o bom, para mim, não serve para mostrar aos outros, serve acima de tudo para mim e se serve para mim serve para quem se senta à minha mesa.