30.9.09

filhos e culpas

Andei a deambular pela blogoesfera e deparei-me com dois posts, este e este.
Não sei quem foi o ser iluminado que se lembrou de traçar o perfil dos pais ausentes, mas tenho quase a certeza que o perfil dele não deve fugir de um gajo que fica no consultório até tarde e más horas, que quando chega a casa os filhos já estão deitados [se é que tem filhos] e de manhã enquanto a mulher ou a empregada leva as crianças à escola, ele fica na sua calma a tomar o pequeno almoço e a fazer a barba. Não sei quem foi, e estou-me bem lixando para a vidinha do senhor.
Cá em casa as crianças são deixadas na escola perto das 9 porque felizmente as aulas do mais velho só começam a essa hora. À tarde, o T. é sempre dos últimos a sair, não consigo ir buscá-lo antes das 19h10, na melhor das hipóteses e saio a correr do emprego que é ali ao lado para o ir buscar sob o olhar reprovador de muitos quantos trabalham comigo. O A., esse desgraçado, que é sempre o último a sair e geralmente já está sozinho com a auxiliar, só me põe a vista em cima por volta das 19h30.
Sim, eu sei, sou uma mãe desnaturada, que tenho de trabalhar das 9h30 às 19h, que não tenho ninguém que mos vá buscar e me substitua até eu chegar a casa, que às vezes ainda vou para o supermercado com eles porque o frigorífico não se enche sozinho [o meu muito obrigada aos supermercados online, que me poupam muitas viagens com criancinhas atreladas a mim].
E sim, também sou uma mãe desnaturada que chega a casa e ainda tem de tratar do jantar e da roupa e da limpeza e do banho do mais novo e ralho com a desarrumação e com os tpc's que não foram feitos no atl, em vez de me sentar no chão a brincar com eles.
Sou, admito que sou uma má mãe, quem anda a criar os meus filhos são outras pessoas que são pagas para cuidar deles enquanto eu trabalho para ganhar um salário que paga a casa, a comida, o gasóleo do carro que os leva à escola, a natação, a roupa que vestem de manhã e que despem à noite, os brinquedos com que se entretêem sozinhos enquanto eu trato de outras coisas e as tais escolas onde os deposito e onde, aparentemente, me pareço desresponsabilizar do meu papel de mãe.
Só há aqui um senão, ou vários: Eu não trabalho por desporto. Eu não tenho culpa de ter uma família disfuncional. Eu quando planeei ter filhos não contei que teria um depósito familiar onde os deixar quando me desse na real gana. Contei comigo.
Por mim, eu também saía do trabalho muito mais cedo, iria levá-los à natação, à capoeira e às aulas de piano, depois iria lanchar com eles a uma pastelaria e viria para casa, sentar-me-ia na mesa da sala e fazia os trabalhos de casa com o T., não faltaria a reuniões de pais e não agendaria as consultas do pediatra para horas em que o conflito com os interesses da empresa que me paga o ordenado fosse menor e não perderia as brincadeiras no tapete porque a Palmira estaria a fazer o jantar.

É, deixo muito a desejar, mas até ter alternativa [eu juro que jogo no euromilhões!] é a mãe que têm e até à data não me parecem infelizes comigo, como tal, eu também não tenho sentimentos de culpa, não enquanto não tiver alternativa.