16.7.10

somos tão frágeis

Num dos pontos de fumadores da empresa onde trabalho costumava encontrar uma colega do departamento finaceiro. Baixinha de ar frágil, simpática, querida no trato. Mãe de um filho desportista que passava a vida entre nódoas negras e ossos partidos. Conversámos muitas vezes naqueles minutos que se demora a queimar um cigarro. Numa empresa com tanta gente conhecemos as pessoas e as histórias que partilham, o nome, esse, fica muitas vezes no desconhecimento. Não sei se ela sabia o meu, o dela soube hoje através da newsletter dos recursos humanos. Isabel. Chama-se Isabel, teve dois aneurismas. Assim de repente, fiquei a saber o nome dela, no meio de um pedido de uma cama articulada e uma cadeira de rodas. Não sei detalhes e também não seriam para aqui chamados. O que sei é que a Isabel, que fumava cigarros comigo enquanto falávamos dos desportos dos miúdos, de um momento para o outro ficou confinada a uma cadeira de rodas. O que sei é que nos chateamos com merdinhas, deixamos que outras pessoas nos estraguem dias, momentos. Passamos tanto tempo a fazer planos e a livrarmos-nos de obstáculos. Queixamos-nos do tempo, do trabalho, do trânsito, do chefe e dos colegas. Merdinhas. Insignificâncias. Não vivemos com o que temos, está-nos no sangue querer mais, querer melhor. Eu há muito que apregoo o mesmo: quero mais tempo, quero ter tempo para viver. A Isabel, não sei o que quer, mas imagino que quereria que o estupor do aneurisma não lhe tivesse sido oferecido e a tivesse deixado no estado que ficou.

Somos tão frágeis.