Caixa dos fios

24.2.10

evitar a dor

Habituei-me desde muito cedo a contar só comigo. É muito difícil andar a bater a portas e levar com portas na cara, doi. Não peço ajuda, desenrasco-me. Não me queixo, levanto-me. Não é uma questão de orgulho, é uma questão de sobrevivência, de dignidade. Não conto com os outros, perto ou longe, não conto, preciso estar a afundar-me para pôr um braço de fora a pedir socorro. Não gosto de dependências, não gosto de esperar que os outros possam/queiram/tenham disponibilidade. Quem está longe provavelmente não pode ajudar, quem está perto consegue ver e se quiser chega-se à frente. É isso que eu faço e, eu sei que não somos todos iguais e se eu me viro do avesso por alguém é um problema meu, não posso exigir que o façam por mim, não posso e não quero, talvez com medo do retorno que possa vir. Não gosto de criar expectativas, prefiro as surpresas e perante a incerteza perfiro a ignorância.
Claro que há quem não entenda este meu lado demasiado independente, mas não sei funcionar de outra forma. Acham-me desligada, orgulhosa, teimosa, cheia de mim, talvez, mas a verdade é que não sou e por vezes mordo-me toda para não esticar o braço até chegar à conclusão que tenho de o fazer senão a subida é muito mais difícil, dolorosa e qui çá as voltas e o tempo que demorarei até voltar à tona e conseguir voltar a respirar, o problema é que a dor de esticar o braço é ainda maior, porque quando estico o braço, para me verem tenho de o passar por lâminas afiadas que cortam e, nessa altura sangro.