Caixa dos fios

21.2.10

da vida

E andamos nós sempre numa correria desenfreada por coisinhas de nada, ninharias, porque o supermercado está a fechar e apetece-nos fazer não sei o quê para o jantar ou, comprar apenas uma tablete de chocolate. Chateamo-nos porque deixamos que pessoas e coisas sem importância vital nos tire o sono, em vez de dormirmos descansados porque no dia seguinte afinal aquele drama já não passa de uma tragiocomédia e perdemos mais não sei quantas horas de sono, inutilmente, estupidamente. E nem o facto de saber que tenho a despensa cheia de pacotes de leite e enlatados, que a caixa de primeiros socorros está devidamente apetrechada, que as minhas lanternas têm pilhas, me deixam descansada quando sou acordada do sonho mais ou menos cor-de-rosa que é a minha vida, pelas imagens de tragédia que num ápice podem assolar qualquer um em vez de nos entrarem pela porta da sala para o mundo e, sentir o quão frágil é esta bolha que envolve a minha vida e a dos meus filhos e de todos os que me são queridos e, que num abrir e fechar de olhos para quem vê de fora e numa eternidade agonizadora para quem a vive ao vivo, tudo pode desmoronar. Como se não bastasse o filme de horror que se vive depois, depois ainda se tem de reconstruir ao mesmo tempo que se aplaca a dor, porque desaparecer não desaparece.

Tão frágeis que somos e, mais ainda, quando vivemos cheios de tudo com uma segurança que impomos a nós próprios tão longe da segurança que realmente precisamos.