5.1.11

ataques

Não sei como é que os outros, as pessoas em geral, comandam as suas vidas, a minha foi sempre pautada por falta de estratégia. Já fiz muitos planos, muitos As que tive de passar a Bs e até a Cs, que eu cá não sou de desistir. Faço muitos planos a curto, a médio prazo e até alguns a longo, se bem que estes, sempre em menor número e cada vez menos. Geralmente não esmoreço quando o plano A não funciona, ou já tenho um B na manga ou rapidamente arranjo um, felizmente a minha mente é suficientemente criativa, suficientemente rápida e, tão ou mais importante, muito habituada a lidar com reveses. Mas quando penso em estratégia sei que nunca tive uma, embora admire quem a tenha, afinal existem muito boas estratégias positivas.
Por outro lado não consigo admirar outro tipo de estratégias; há quem seja capaz de tudo por uma promoção, por exemplo e, delineie planos dignos do melhor estratega em batalhas até conseguir abrir caminho para atingir o tão almejado lugar. Com tanto que vi, com tanto que aprendi, com tanto que consegui e pela forma que o fiz, ainda não consigo entender o gozo que isso possa dar quando se chega lá, à meta. A mim, cheira-me sempre a sentimento de insatisfação. Por muito que se consiga, que se consegue, que já vi tanta gentinha a consegui-lo, quando conseguem o que querem deve haver um travo amargo de insatisfação, até porque geralmente há vítimas a lamentar e não sendo o caso, pelo menos danos causados a terceiros há com toda a certeza. Quando dou como exemplo a promoção, é só mesmo um exemplo, aplica-se a qualquer coisa que se consiga através de meios menos convencionais [eu tinha outro nome para lhes chamar, mas este serve]. Sei que se tivesse montado uma estratégia como as que vejo à minha volta, já teria muito mais do que tenho, já teria atingido um patamar muito mais elevado, não é preciso muito, afinal com a inteligência com que Deus me dotou só me faltavam dois ingredientes fundamentais: a falta de vergonha na cara e sangue de barata, mas estes não os tenho e embora se consigam arranjar nunca os compraria, prefiro ter menos mas muito melhor. Entre o doce sabor do degrau atingido e o amargo do patamar, não me restam dúvidas.
O problema [delas, não o meu] é que abomino verdadeiramente as pessoas que fazem parte desta espécie e que infelizmente não se encontra em vias de extinção, ao contrário de outros animaizinhos bem mais queridos e fofos, além disso parece-me que saí de fábrica com um extra, um radar que detecta ao longe a espécie, o que confesso, que se por um lado me dá algum jeito, por outro, além de me acordar para a terrível realidade de superpopulação da espécie, impede-me de me fazer de parva. Em vez disso tranco os dentes dentro da boca para que não lhe vejam sequer um arzinho da sua graça e ignoro-as completamente. Coisa que aliás e sem modéstias faço muito bem, ignorar. Mas como tudo tem um lado perverso, o caso não podia ser diferente, e o lado perverso da coisa é que também me topam: topam que eu as/os topo. O que pode ser uma grandessíssima merda, mas lá está, se há coisa que não tenho, nem quero que ocupa muito espaço, é estratégia. Sendo assim, topem-me à vontadinha que eu continuo com os meus oculinhos-cor-de-rosinha [os inhos e inhas são propositados] a ignorar-vos porque no meu mundo vocês não existem, tá?