Durante muitos anos quando pensava numa família que conheci quando era ainda muito miúda ficava chocada. Era uma família sem mãe, havia um pai, uma filha e dois filhos. A mãe separou-se do pai e deixou a casa e os filhos para ir recomeçar uma nova vida num outro país. Largou tudo e foi. Durante anos quando pensava no assunto não entendia, não percebia como é que uma mãe é capaz de deixar os filhos, assim levianamente, achava eu. Hoje, que sou mãe, quando penso no assunto aperta-me o peito, mas não me escandaliza. Hoje consigo arranjar uma série de explicações para uma mãe [ou um pai] o fazerem, por muito socialmente incorrecto que seja.
Em primeiro lugar não se nasce mãe nem pai, e sê-lo não se ensina, pode-se retirar muita informação de muito lado, mas para mim é como a arte. Uns nascem com vocação, outros não, uns esforçam-se, outros não. Dos que nascem com vocação, uns esforçam-se e aperfeiçoam a técnica, outros não. Dos que nasceram sem a vocação, uns esforçam-se e com o treino acabam por torna-se tão bons ou melhores do que os que nasceram com vocação, outros esforçam-se e nunca chegarão perto, outros nem vocação, nem esforço, nada. Servir-se-ão sempre da desculpa que fazem o melhor que podem e sabem, sem fazerem o mínimo esforço porque há tanta coisa mais interessante para fazer.
Seja como for as crianças não vêem com livro de instruções, nem com um botão on/off que por vezes dava tanto jeito. É preciso tempo, empenho, vontade. Educar é talvez a tarefa mais exigente que qualquer ser humano, independentemente do parentesco, terá pela frente. Muitas vezes erramos convictos que estamos a fazer o mais correcto, felizmente também, muitas vezes acertamos. Não é fácil, temos de ser nós e para nós, mas também somos deles, muitas das vezes somos mais deles do que de nós próprios. A nossa vontade de dormir quando nos levantámos 10 vezes numa noite, não nos impede de nos levantarmos uma 11ªvez caso a criança assim o “exija” e, como este exemplo, enquanto mãe poderia enumerar um sem fim de exigências deles que anulam a minha vontade, mas acho que não vale a pena ir por aí. A maternidade/paternidade tem coisas fantásticas sem dúvida nenhuma, mas ver apenas esse lado é ver apenas o lado romântico da coisa, a parte que fica gira nos livros, a verdade é que a melhor definição que alguma vez li é que o nascimento de um filho é como arrancar o coração do peito e passar a andar com ele nas mãos, definição que subscrevo inteiramente.
Se ser mãe/pai já não é tarefa fácil, mesmo que a tentemos levar a cabo cheios de amor, empenho e boa vontade, se o tivermos de ser enquanto o outro progenitor usa a criança para nos atacar, para infernizar aí a tarefa torna-se heróica. É um auto-flagelo manter a imagem impoluta de alguém que constantemente através de palavras e acções tenta minar a nossa imagem. Sofrer na pele os ataques de terrorismo em nome de uma causa sem nome nem motivo, pior, ver os danos causados aos menos culpados de tudo isto, um filho. Quando um dos progenitores usa de modo inconsequente e repetido o filho para se vingar do outro está a atentar contra o próprio filho e, mais tarde se provará que contra si mesmo. As crianças têm memória e as memórias da infância são as que mais marcadas ficam. E é aqui, sobretudo nestes casos que eu entendo porque desistem mães e porque desistem pais. Como disse mais acima, é socialmente incorrecto e, diria até, socialmente condenado. Mãe ou pai que “abandone” a sua prole é apontada/o de dedo bem espetado. As pessoas em geral gostam de falar, de apontar, a maior parte das vezes desconhecedores de todos os factos que levam mães e pais a desistir de lutar. Já me perguntei muitas vezes quantos dos casos que ouvi falar ou que conheci superficialmente não terão saído de cena com o coração despedaçado com o motivo maior que é acabar com o campo de batalha em que vive o seu próprio filho. Haverá vozes que dirão ou mentes que pensarão: Isso não é solução.
Talvez não seja, mas provavelmente, na altura que tomaram a decisão esse não era de todo o caminho mais fácil mas a única saída que viram capaz de acabar com o terrorismo de que eram vítimas e retirar a criança da linha de fogo.
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