13.2.11

segurança psicológica

Quando era miúda e tinha a mania que trepava tudo, que não havia muro que me detivesse nem que fosse pela curiosidade de ver o que estava do outro lado, que o medo das alturas não evitava que trepasse a escada para o telhado de onde a vista era deslumbrante [e onde ninguém se atrevia a chatear-me], que não era por não haverem galhos suficientemente formes que não ia buscar as nêsperas do topo da árvore [percebi muito cedo que quanto maior a dificuldade, mais saboroso se torna] . Não fui uma miúda-sem-medo, mas chegar ao topo da árvore e servir-me de uma folha para sentir segurança para aproximar das nêsperas era um tanto ou quanto arriscado. Claro que naquela altura na minha mente risco era aldrabar os castigos que a minha mãe me dava ou falsificar a assinatura dela nos testes com notas negativas, o risco de cair da árvore ou do telhado e estatelar-me no chão era coisa que nem me ocorria, desde que tivesse algo, mesmo que frágil onde me agarrar para me sentir segura e seguir em frente.
Agora entendo que se por um lado a segurança psicológica me permitiu avançar e alcançar as nêsperas, por outro, o hábito que criei de "precisar" de apertar a folhinha entre os dedos como se tivesse uma corda de alpinista a proteger-me, impediu-me de alcançar sem muleta tantas coisas que afinal alcançaria na mesma, porque afinal alcancei-as eu e a única ajuda foi alguém não ser mais do que uma mera folha para eu apertar entre os dedos.