dos almoços Lipstick Jungle
E lá estava eu, no sítio combinado, a ligar-lhe para saber onde ela estava, quando me aparece ele pela frente. [E que saudades que já não o via há tanto tempo]. E finalmente encontramo-nos, os três e, ela e ele conheceram-se, finalmente. E sentimos os três que nos conhecemos desde sempre. E decidimos onde vamos almoçar. E estamos os três de acordo. E nós as duas, [que afinal somos apenas uma], fazemos dele gato-sapato [ele reclama, mas gosta]. E falamos das nossas coisas, daquelas que não assumimos a mais ninguém. E brincamos e rimos, uns dos outros e de nós próprios. E vamos fumar um cigarro, porque nenhum de nós ultrapassou a fase oral [mais uma em comum]. E temos que ir embora, porque uma tem uma revista para pôr nas bancas e ele um filme para produzir e a outra uma colecção para desenhar. E beijos, até já.
E eu quero mais almoços assim.
"E lá estava eu, no sítio combinado. Estava ao telefone ali mesmo à minha frente. Caramba que saudades, e está gira que se farta. Quem sabe no meu próximo filme. Aposto que aceita. Vamos lá quero conhecê-la. Degraus e degraus, lá está ela, e diabos me levem se aqueles olhos existem. Conhecemo-nos enfim, bate tão certo. Restaurante escolhido, fazem-me de gato sapato e eu finjo que não gosto. Gosto da cumplicidade entre elas, e da que nasce a três assim genuína e saboreada. Soltam-se risos e conversas, e (re)descobrimo-nos aos poucos. Que querem que faça, estão tão juntas na minha zona de afectos, daqueles que nem vale a pena disfarçar. Café e cigarros e outras conversas, quase sérias por vezes. Voltamos, de encantos rendidos (será que gostou de mim?) ao dia a dia. A minha produção, a revista de uma e a colecção de outra. E aqueles olhos, que nem sei se existem… no meu próximo filme. E eu quero mais almoços assim."
"E lá estava eu no sítio combinado. Aparecem os dois [ena, o tipo é alto...], chama-me parva com um sorriso maroto. Boa. Não se intimida. Posso baixar as defesas. É cá dos meus. Restaurante em concordância, lá vamos nós. Afinal não altera nada. Dar um rosto a alguém que nos liga na noite de Natal, que nos conta a vida, que nos protege ao negar uma realidade que nada muda o nosso estado não altera nada.
E é tudo tão simples, Tudo tão fluído. Os risos e as confidências e o bife e as meias palavras que não precisam de continuar porque o outro já entendeu, a falta de necessidade de agradar porque já nos conhecem, já gostam, já sabem, já tudo.
E o tempo aqui é contado não por dias mas por situações. Por estar ao lado quando necessário. Pelo comer das passas à meia-noite. Pelo pensar no terceiro quando ele nos falta. E eu, que os conheci com as mãos frias, saí deste almoço com o coração bem quente.
E eu quero mais almoços assim."
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