Caixa dos fios

3.7.08

ser mãe, ser gente


Tenho dois filhos, um quase com 6 anos o outro com quase 2. A maternidade muda-nos, é verdade, senti bem as mudanças que ocorreram quer na forma como encaro a vida, quer na forma como olho para ela. Não é um lugar comum, eles são de facto o centro do meu mundo, pelos meus filhos faria qualquer coisa, mas este qualquer coisa não pode ser mostrar-me como não sou. Estou longe de ser uma Mãe Perfeita ou uma Super-Mãe, até porque não acredito que existam. Não sou,nem tenho ambição a tal. Claro que gostava de às vezes ter mais paciência para as birras intermináveis, gostava de ter prazer em me sentar com eles a brincar, preferia não ter de castigar, não ter de me zangar. Sou mãe, mas sou gente, também. Tenho os meus dias. Na maior parte deles consigo negociar (é mesmo essa a palavra) e, sem dramas, levar a água ao meu moinho, noutros também dou dois gritos, castigo faltas de educação e birras parvas. Quase nunca me sento a brincar com eles, deixo-os andar, dou-lhes liberdade, dou-lhes espaço, mantenho-me na plateia qual espectador, questiono-me se sou boa mãe, se estou a agir bem. Brinco com eles no parque, jogo à bola até de saltos altos, deixo-os tropeçar para lhes dar a mão quando se tentam levantar. Não brinco com eles como gostaria. Dou-lhes muito mimo, todos os dias lhes digo o quanto os Amo. Mas não brinco o que gostaria. Converso muito com eles, como se fossem crescidos, respondo a todas as perguntas mesmo aquelas que nos deixam uma pedra de calçada entalada na garganta, mesmo as mais difíceis de responder. Não lhes leio histórias todos os dias, mas oiço muita música com eles. Mostro-lhes o que posso do mundo. Abro-lhes os horizontes com pequenas coisas. Não estou "só" a educar duas crianças. Estou mais do que tudo a formar adultos. Estou a formar três adultos, eles e eu, sim, porque eu também aprendo com o que lhes transmito. Tenho aprendido a ser Mãe, tenho aprendido que ser Mãe é não deixar de ser gente. Que ser Mãe é ter defeitos e falhas sem me auto-censurar, porque ninguém é perfeito e eu não posso educar os meus filhos sob falsas aparências. Ser Mãe é também ser paciente, sobretudo comigo própria, é saber perdoar as minhas próprias falhas. Não brinco tanto como gostaria, mas dou-lhes espaço para serem eles próprios. Não brinco tanto como gostaria porque também sou gente. E, enquanto eles brincam olho para eles com orgulho dos seres ímpares que são e perdoo-me por todas as minhas falhas enquanto Mãe, só porque sou gente.