Caixa dos fios

9.7.08

diferente

O silêncio na casa a partir de uma certa hora. Gavetas e armários que vão ficando vazias. Rotinas que se modificam. Momentos que deixam de ser partilhados. A casa que parece maior. A lista de supermercado onde deixam de constar certos artigos. A bancada da casa de banho que tem mais espaço. Os gelados acumulados na última gaveta do congelador. O cabide da toalha vazio. As chaves sempre no sítio certo. Os relógios que deixo de ter de arrumar porque foram largados algures. Duas alianças juntas na caixa das jóias. O desfecho de vários anos em conjunto, de repente, em papel, preto no branco, assim, a seco.
Sem discussões, sem dramas, sem roupa suja.
Tudo tão certo, tudo tão direito, tudo tão... assustador.
São as certezas no caos da dúvida.
É saber donde venho sem saber para onde vou.
É um torpor dos sentidos. É a ausência do sentir.
É manter a cabeça à tona para não me afogar.
É andar para a frente sem olhar para trás.
É assinar e recomeçar.