Colo, colinho, faz falta a toda a gente, independentemente da idade, o colo pede-se e dá-se. Todos deviam ter colo quando dele precisam e todos o deviam saber dar. Pode não ser fácil pedi-lo, assim como pode não ser fácil dá-lo. Os afectos por vezes não são fáceis, se quando nascemos é-nos natural recebê-los, essa naturalidade acaba por desaparecer com o tempo se nos desabituam deles. Infelizmente há inúmeros motivos pelos quais nos podemos desabituar a recebê-los e a partir desse momento rapidamente perdemos a capacidade de os dar.
Nenhum pai ou mãe é capaz de admitir que não é afectuoso ou que não dá colo à sua cria, independentemente da idade da mesma, mas dar colo, no sentido em que escrevo, é dar colo mesmo, não é apenas apaziguar o choro provocado pela dor no joelho esfolado ou a cabeçada na porta ou no móvel ou até mesmo por causa do boneco velho e esfarelado que se perdeu, isso é sentar ao colo. Dar colo é sentimento, é carinho, é amor, é sentir que aquela dor que provoca o choro é real e senti-la com a dimensão de quem chora. Porque há momentos em que todos precisamos de colo, independentemente da idade ou do motivo. Um ou uma adolescente que chega a casa lavado(a) em lágrimas a dizer que vai morrer porque sicrana ou beltrano acabou o namoro, precisa de colo. Claro que [pelo menos na maioria das vezes] não morre coisíssima nenhuma e passado algum tempo já ultrapassou a coisa, mas nós adultos que já fomos adolescentes e temos a memória mais viva desses tempos do que da infância, mesmo que relutantemente, mesmo que com vergonha e apenas para nós próprios, conseguimos esgar um "I've been there, I've done that". Obviamente e, mais uma vez em casos normais, quando adultos temos outras responsabilidades, outras "dores maiores", mais graves, de resolução mais difícil e consequentemente volta meia volta precisamos de colo e talvez seja por esses mesmos motivos que nos esquecemos que os motivos da necessidade de colo são diferentes, mas que a dimensão só quem dele precisa é que pode avaliar. E é muitas vezes desta forma que se perde a capacidade tanto de dar como receber. A boa notícia é que a incapacidade é reversível e, se é bom receber colo, dá-lo também enche, basta querermos.