Caixa dos fios

3.8.11

os meus fios estão cada vez mais presos

A propósito de uma conversa ao telefone, recordei-me dos tempos em que a blogoesfera me fez todo o sentido. Aliás, a bem da verdade, não só fez sentido como foi verdadeiramente importante na minha vida. Aqui, no fios, expurguei dores e pensamentos, lá, no Cabra diverti-me como em nenhum outro blogue. Ainda me lembro de na minha antiga casa, ter de fugir do escritório que era mesmo ao lado do quarto onde dormiam os meus filhos, para me ir desmanchar a rir à gargalhada para a cozinha. Foram tempos [muito] conturbados a nível pessoal e se a blogoesfera serviu para espairecer, não é menos verdade que aqui fiz amigos para a vida. Algumas das minhas amizades mais queridas nasceram a partir daqui. Pessoas de carne e osso com quem troquei comentários, emails, telefonemas [horas de telefonemas], que me deram guarida, com quem partilhei refeições e sobretudo com quem troquei ideias, desabafos, risos, gargalhadas e até lágrimas. Troquei e ainda troco. E se nem tudo são rosas na blogoesfera, posso orgulhar-me de nunca a ter levado demasiado a sério. Para mim, não passa de uma janela aberta que podemos escancarar mais ou menos, conforme a vontade e o discernimento de cada um. Já escrevi coisas que ao reler tempos depois me fazem pensar: "porra, fui eu que escrevi isto?", também já escrevi coisas que depois de reler sou assolada pelo síndrome de avestruz tal é o tamanho da palavra Totó que vejo escrita na minha testa. Enfim, cada um é para o que nasce...
Para quem me lê e chegou até aqui, este não é um post de despedida, não vou [mais uma vez] fechar o fios. Este é um post de desabafo, de partilha se quiserem. Têm sido muitas as vezes que tenho aberto a página nas novas mensagens; umas vezes começo a escrever e desisto a meio, outras as palavras parece que não descem do cérebro para os dedos, outras ainda porque não me apetece partilhar, não por ser mau ou bom, mas porque não me faz sentido nenhum ou porque [já] não tenho necessidade de expurgar tudo o que me passa na alma. Já pensei em criar um novo blogue, com outro nick até, mas era igual, aliás, não era. Não era porque apesar de não ter a minha identificação completa, o meu nick é apenas isso um nick. Claro que como a maioria das pessoas, dentro de mim vivem várias personalidades que se mostram consoante as circunstâncias, mas a essência é a mesma e a @na partilha dessa mesma essência.
Também pensei em mudar a linha editorial do fios [como se alguma vez tivesse tido algo a que se pudesse dar um nome tão pomposo], aproveitando a maré em que tenho nadado era fácil, fácil transformar isto num baby blog com direito a barrinhas fofinhas e tudo. Podia escrever textos sobre o peso que aumentei, sobre os pontapés da criança que habita dentro de mim. Nããã... não faz o meu género e acho que isso sim, seria a primeira cavadela na sepultura.
Só que depois tenho dias em que olho para o fios e vejo-o parado e vejo-me a mim com vontade de o pôr a mexer, nesses momentos começo a busca de algo para escrever [tenho saudades de ter o quê...] e não me aparece nada. Nunca me vi como alguém com criatividade para ter assunto todos os dias, ou vá, dia sim dia não, para não me esgotar, não sou uma pessoa dessas. Também não me apetece escrever tudo o quanto me acontece no passar dos dias, porque há coisas que não quero partilhar com o mundo e se me apetecer escrever sobre tudo então mais vale voltar uns anos atrás, passar na papelaria e comprar um livrinho em branco e escrever um diário. Não tem a ver com quem me lê ou deixa de ler, porque para isso, lá está, voltava à opção começar de novo com outro nick.
Depois de ponderar tudo o que sinto em relação ao que escrevo ou, neste caso, ao que deixo de escrever, cheguei à conclusão que, de facto, existe um tempo para tudo e não se pode voltar ao que se foi. Já lá vai o tempo em que me bastava ter um pensamento ou sentimentos a pairar e saía um post. Já não sou assim e o fios será o que tiver de ser.